sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Gosto muito da inteligência política distractiva do ministro dos negócios estrangeiros. O mundo político esbraceja nevrosado, cá em baixo, e o Rui Machete ideia qualquer coisinha e di-la de chofre e sem rebuço, lá em cima.

Gosto muito da inteligência política distractiva do ministro dos negócios estrangeiros. O mundo político esbraceja nevrosado, cá em baixo, e o Rui Machete  ideia qualquer coisinha e di-la de chofre e sem rebuço, lá em cima. Ainda agora, enquanto a multidão política forcejava na hermenêutica do discurso desse mestre na organização do exílio financeiromonsieur Juncker, e já Rui Machete falava em reparações devidas a Portugal pela troika. Ora digam lá que o homem não tem o retórico kairos.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O Vasco Pulido Valente, cativo do estilo longividente e panóptico de alguns historiadores, assesta a mirada histórica no lado de lá e diz de chofre que o que está aqui é o que está lá. E o resto são maçadorias e verduras da juventude do grego. E não era o dia de dar esmola ao pobrezinho da senhora. E o Pulido Valente vê mal ao perto.



                                 
O hábito não faz o monge, mas fá-lo parecer de longe. Para o Vasco Pulido Valente, o homem é o estilo e o estilo é o homem. Não há ideia vácua que melhor assente ao atavio da prosa do cronista. O Vasco Pulido Valente, cativo do estilo longividente e panóptico de alguns historiadores, assesta  a mirada histórica no lado de lá e diz de chofre que o que está aqui é o que está lá. E o resto são maçadorias e verduras da juventude do grego. E não era o dia de dar esmola ao pobrezinho da senhora. E o Pulido Valente vê mal ao perto.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Singer para ministros da saúde

Suponha que tem um cancro galopante num rim. Vai matá-lo,  provavelmente no próximo ano ou no seguinte. Uma droga chamada Sutent abranda a disseminação do cancro e pode dar-lhe seis meses extra de sobrevida, mas custa 45 mil dólares. Valerão estes meses a mais tal valor?

Começa assim um artigo do filósofo Peter Singer, dado à estampa no New York Times em 15 de Julho de 2009 e intitulado Porque Devemos Racionar Os Cuidados de Saúde, no qual o especialista de Bioética Aplicada reflecte sobre os custos destes cuidados e as questões éticas atinentes ao seu virtual racionamento.
Singer concita-nos a pensar esta questão à luz da consabida anedota em que um homem pergunta a uma mulher se aceita ter sexo com ele por um milhão de dólares. Ela reflecte durante algum tempo e aceita a proposta. “Então”, continua ele, “e se for por cinquenta dólares?” Indignada, a mulher exclama: “ Mas que tipo de mulher é que pensa que eu sou?” Ele responde: “sobre isso já estamos conversados, agora só estamos a negociar o preço.” Como diz Singer, à resposta do homem subjaz a a assumpção principial de que, se a mulher está disponível para se vender por um qualquer preço e aceita considerar monetariamente a sua honra, a mulher é uma prostituta imoral. Advoga o autor que à forma como encaramos o racionamento nos cuidados de saúde subjaz uma assumpção similar - a de que é imoral aplicar considerações monetárias quando se trata de salvar vidas. Pergunta Singer: é esta assumpção sustentável e realista?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A crer na Apologia de Sócrates, de Platão, as derradeiras palavras de Sócrates relembravam uma dívida por si contraída e apelavam a Críton para que a saldasse - Eu devo um galo a Esculápio, vais lembrar-te de pagar a dívida?

A crer na Apologia de Sócrates, de Platão, as derradeiras palavras de Sócrates relembravam uma dívida por si contraída e apelavam a Críton para que a saldasse - Eu devo um galo a Esculápio, vais lembrar-te de pagar a dívida? Consta que Esculápio nunca lhe ferrou o dente, naturalmente porque Críton se esqueceu e os deuses são falhos de dentes.
Desde a Antiguidade, de Platão a Sandel, passando por Nietzsche e Benjamin, que os filósofos se preocupam com as dívidas. Este, coevo, deve ser lido pelos gregos com atenção.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Voltemos à vaca fria. Os relatos dos paralíticos e dos pinguins do nosso dos Santos são relatos do jornalista que ainda não decidiu se o mundo pertence ao género realista ou ao género fantástico...

Voltemos à vaca fria. Os relatos dos paralíticos e dos pinguins do nosso dos Santos são relatos do jornalista que ainda não decidiu se o mundo pertence ao género realista ou ao género fantástico. Mas o problema deste jornalista, de todos os jornalistas, di-lo Kraus, é terem uma rara habilidade a expressar as ideias que não têm, o que significa que a ideologia da comunicação não tem horror ao vazio.