quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Os profetas que fazem pouco caso do futuro



Enquanto alguns economistas vaticinam a morte do sistema actual de segurança social, o governo prepara-se para diminuir as prestações sociais. Na verdade, tal vaticínio parece ser mais uma mertoniana self-fulfilling prophecy dos economistas liberais que recusam a visão solidarista do Estado Social Europeu: os áugures, enleados na dialéctica crença-comportamento, realizam performativamente o que predizem. Mas não há profecia sem teleologia, telos ou fim último: os pregadores do self help, herdeiros da crença calvinista segundo a qual Deus ajuda aqueles que se ajudam a si próprios, clamam que só uma minoria de desvalidos merece apoio (deserving poors), e, afiança Bourdieu, estão empenhados em fazer da insegurança social um princípio positivo de organização colectiva, capaz de produzir agentes económicos mais eficazes e produtivos. O que prova o que todos sabemos: há um escol de profetas que não depende do futuro.

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