terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Os nebulosos Gaspar, Pereira e Arnaut e a Nebulosa da Governação Global

Recentemente, o professor José Manuel Pureza apoucava o interesse em saber se as idas de Vítor Gaspar para o FMI, de Álvaro Santos Pereira para a OCDE e de José Luís Arnaut para o Goldman Sachs se deveram à influência do governo e, citando Robert Fox, interpretava-as como expressão da nebulosa da governação global, feita de relações informais entre mercados, governos e instituições internacionais que governam de facto os países e as suas populações. Nem mais! Engana-se quem pensa que a globalização é um processo autotélico gerado por um capitalismo desregulamentado de comércio e mercados livres. Como escreveu Antonio Negri no Multidão – Guerra e Democracia na Era do Império, basta uma breve visita às neves de Davos para pormos de parte esta ideia de desregulação do capitalismo, pois podemos aí ver claramente a necessidade que os dirigentes das maiores companhias têm de negociar e cooperar com os líderes políticos dos estados-nação dominantes e com os burocratas das instituições económicas supranacionais.
Diz-nos também Negri que a grande lição de Davos é uma lição antiga: não há mercado económico sem ordem e regulação políticas, e aqueles que advogam a libertação dos mercados ou do comércio do controlo do estado não reclamam, na realidade, menos controlo político, mas simplesmente uma espécie diferente de controlo político. É também curioso observar como as elites empresariais, burocráticas e políticas que se reúnem em Davos para haurir os ares frescos da montanha não necessitam de apresentações recíprocas, pois os investigadores das estruturas institucionais das empresas e dos serviços do Estado observaram como umas e outras se desenvolveram paralelamente ao longo de todo o século XX, ao mesmo tempo que as empresas se inseriam cada vez mais solidamente nas instituições públicas. Não é pois de admirar, continua Negri, que os mesmos poucos indivíduos transitem tantas vezes e com tão pouco esforço dos gabinetes governamentais mais importantes para as salas dos conselhos de administração das empresas ou vice-versa, no decurso da sua carreira
Se assim for, e a hipótese de uma nebulosa da governação global, nada resserenadora, for real, o que pensar agora, sabendo que dela fazem parte os nebulosos Vítor Gaspar, Álvaro Santos Pereira e o José Luís Arnaut? 

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