terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Sandel more geometrico

Num texto luminoso, o filósofo Michael Sandel demonstra, a bem dizer more geometrico, como um fosso demasiado grande entre ricos e pobres, para além de suscitar questões atinentes à justiça e à ética, prejudica uma política do comum e a solidariedade que uma cidadania democrática exige. De que modo? Escreve Sandel que, à medida que a desigualdade se intensifica, os ricos e os pobres vivem vidas cada vez mais separados. Os ricos mandam os filhos para as escolas particulares (ou para escolas públicas dos subúrbios ricos), deixando as escolas públicas urbanas para os filhos de famílias que não têm outra alternativa. Para além disso, insiste o filósofo americano, uma tendência semelhante conduz ao afastamento dos privilegiados de outras instituições e serviços estatais - os ginásios privados substituem os centros recreativos municipais e as piscinas, os condomínios com segurança privada dependem menos da protecção policial pública, um segundo ou terceiro carro elimina a necessidade de depender de transportes públicos –, levando-os ao abandono de locais e serviços públicos, deixando-os para quem não tem dinheiro para mais. As consequências são, segundo Michael Sandel, a nível fiscal e a nível cívico. Em primeiro, os serviços públicos degradam-se, já que os que não os utilizam têm cada vez menos vontade de os financiar através dos seus impostos. Em segundo, os lugares públicos de interacção (escolas, hospitais, instituições públicas) onde os cidadãos de diferentes estratos sociais se juntavam e eram escolas informais de virtude cívica tornam-se cada vez mais raros, rarefazendo-se também a solidariedade e a cidadania democrática. E demonstra-se assim quod erat demonstrandum.

  

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