domingo, 11 de janeiro de 2015

Mas não tenhamos ilusões: como signo de um certo retorno pendular do sagrado, o retorno do sacrílego e do blasfemo é também o retorno da violência religiosa (o sagrado pende entre o êxtase e o furor), porque, como relembra a revista Point citando Leo Strauss, as doutrinas da tradição não foram rebatidas, foram expulsas pelo riso.

Há uma cultura do ressentimento, larvar e impenitente, nos sincretismos marginais de algumas religiões: ressentimento contra a secularização das mundividências; ressentimento contra a laicidade do Estado, da Política e da Cultura (vertida na lockeana afirmação de que uma igreja é uma societas spontanea, livre e voluntária, à qual não corresponde, como na comunidade política, nenhuma necessidade ou poder coactivo sobre membros e não membros, e que deve dispor como única arma a prédica e a exortação); ressentimento pela menorização da sua influência e poder simbólico; ressentimento, enfim, contra o experimentalismo da vida moderna. Este ressentimento clérigo-obscurantista disseminou-se pelo pensamento neo-con, nos incontáveis literalistas bíblicos/corânicos, no filo-criacionismo cientista dos adeptos do Intelligent Design, e deve, naturalmente, merecer a pronta exprobração de qualquer homem ilustrado. Mas não tenhamos ilusões: como signo de um certo retorno pendular do sagrado, o retorno do sacrílego e do blasfemo é também o retorno da violência religiosa (o sagrado pende entre o êxtase e o furor), porque, como relembra a revista Point citando Leo Strauss, as doutrinas da tradição não foram rebatidas, foram expulsas pelo riso.

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