terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"COMO SE LÊ UM ENSAIO DE FILOSOFIA?"



( Imagem via "O Silêncio dos Livros")

« Não é necessário ler todo o Goethe, todo o Kant, nem mesmo é necessário ler todo o Shopenhauer; algumas páginas do Werther, algumas páginas das Afinidades Electivas e no fim sabemos mais sobre os dois livros do que se os tivéssemos lido do princípio ao fim, o que em qualquer dos casos nos priva do mais puro deleite. Mas para se chegar a esta drástica autolimitação é preciso ter tanta coragem e tanta capacidade intelectual que só muito raramente isso é possível e nós mesmos só raramente o conseguimos; a pessoa que lê é, como a carnívora, de uma abjecta voracidade e arruína, como a carnívora, o estômago e toda a saúde, a cabeça e toda a existência intelectual.
Mesmo um ensaio filosófico compreendêmo-lo melhor quando não o devoramos por completo de uma só vez, mas apenas debicamos um pormenor, a partir do qual, se tivermos sorte, chegamos depois ao todo»

«Assim as pessoas lêem hoje tudo à pressa, lêem tudo e não sabem nada. Eu entro num livro e instalo-me nele, inteiramente, pense bem, numa ou duas páginas de um trabalho filosófico, como se estivesse a entrar numa paisagem, numa área da natureza, numa estrutura de um estado, num pormenor da terra.»

Thomas Bernhard – Antigos Mestres

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