quarta-feira, 22 de abril de 2015

Coimbrinha B/Pois, então, com profusão de eferreás, urras, urros e evoés sortidos, abriu a época da histeria ébria universitária...

Dizia o Fialho de Almeida, viperino, que o futrica tinha duas aptidões atavísticas: a d`irmão do Santíssimo e a de levar lambada de estudante. Hoje em dia o Santíssimo joga na primeira divisão, e embora o futrica já não dê a outra face, continua em sarapanto com a pasmosa boa-vai-ela estudantil.
Pois, então, com profusão de eferreás, urras, urros e evoés sortidos, abriu a época da histeria ébria universitária. E é um mimo vê-los, agora com grande aparato de selfies e vídeos, a quitar à voragem do momento a pose simiesca, a vomição geral, a géstica da canzana ou do felatio.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Menoscabo da Viagem/...viajar é a última fantasia que o século XX nos deixou...

Há um ror de anos, Pascal, pungido por dores de estômago e enxaquecas malinas, terá escrito que todos os males acontecem ao homem por ele não ficar quieto no seu quarto, e Proust, o eremita do quarto forrado a cortiça, apegou-se ao apólogo como romeiro ao orago e por aí se quedou.
Os grandes mestres do desassossego e da inquietação eram homens que frequentemente se encontravam imobilizados, e, a crer no Ballard de Millennium People, viajar é a última fantasia que o século XX nos deixou, a ilusão de que ir a algum lado nos ajuda a reinventarmo-nos. Ora, qual é o homem judicioso que deseja tal coisa?

terça-feira, 14 de abril de 2015

A vida nua

Também foi sobre isto e isto que Agamben escreveu no Homo Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua: acuados no território anómico do estado de excepção, o poder soberano decide os seus destinos: os das vidas vulneráveis expostas à morte, as vidas nuas.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Sloterdijk Para Sampaio da Nóvoa e Paulo Morais

A propósito da crise da credibilidade política, e num capítulo epigrafado com uma citação de Juvenal, Difficile est satyram non scribere (É difícil não escrever uma sátira), o filósofo alemão Peter Sloterdijk rememora no livro Mobilização Infinita uma singular tradição política romana. Sempre que um cidadão se apresentava como candidato a um cargo público, desfilava pela cidade usando uma toga imaculadamente branca, asseverando assim aos seus concidadãos a condição de «candidus», cândido, isto é, candidatum. O que queriam eles dar a saber? Segundo Sloterdijk, os Candidati desejavam dar a “saber que estavam dispostos a perder a sua inocência; eram «as noivas» do princípio da realidade, cujo potencial de desfloração é lendário desde o tempo dos Romanos”.

domingo, 5 de abril de 2015

Para que é que um homem de calças precisa de latim?

A este empenho, uma das densíssimas personagens de Nemésio inquiriria: mas para que é que um homem de calças precisa de latim?
Fernando de Bulhões, vulgo santo António, dizia que não é sábio quem sabe mais do que é preciso, mas o saber sobre o que é preciso aprender e ensinar carece de uma reflexão filosófica não trivial, que sobrepuje as orientações políticas liberais do sistema de ensino das democracias (entre as quais o infognosticismo e a lengalenga da ligação às empresas são exemplos risíveis), já que estas menorizam as Letras, mingam os já depauperados orçamentos dos departamentos de Artes e Humanidades, e consideram supérfluos e ociosos todos os saberes que não se concretizem numa estrita techné.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

O resto são implicâncias monomaníacas do João Miguel Tavares

Para zurzir no número aventado do desemprego real proposto pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra,  estapafúrdio e hiperbólico, o João Miguel Tavares, que tem umas luzes tremeluzentes de história económica, invoca o annus horribilis de 1933 nos Estados Unidos e pergunta: Vinte-e-nove-por-cento?!? Só para termos uma noção, estima-se que a taxa de desemprego nos Estados Unidos em 1933, pleno pico da Grande Depressão, tenha batido nos 25%. Teremos nós um nível de desemprego real quatro pontos percentuais acima da maior depressão do século XX? João Miguel Tavares podia ter continuado: maior do que 23,9% dos espanhóis ( Novembro de 2014)? Maior do que os 25,7% dos gregos (Setembro de 2014)?
O resto são implicâncias monomaníacas do João Miguel Tavares, que a continência e o cautério do tempo quaresmal deviam sarar.