quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O PEDAGOGO 1


A revista Philosophie de Dezembro 2009/Janeiro 2010 publicou um pequeno artigo intitulado “Payés pour aller à L`École”, no qual reflecte sobre as políticas dos governos Francês e Inglês para obstar ao absentismo dos alunos. Os projectos, crismados de «cagnotte scolaire» em França e de «Be there bonus scheme» em Inglaterra, contemplam o pagamento de bónus à assiduidade e presença dos alunos, para os quais o acesso ao saber não constitui um privilégio sem preço, mas uma ocupação retribuída.
Como refere o artigo, «o saber e o dinheiro sempre tiveram difíceis relações», não havendo entre eles, Aristóteles dixit, nenhuma medida comum. «Toda a história da educação pode ser lida como a forte aspiração a aceder a esse bem sem preço que é o saber», e a questão «como retribuir o que não tem preço?» não tinha resposta expedita até ao momento em que algumas escolas francesas e inglesas a proclamaram - 15 a 100 euros se o aluno responder presente à chamada sorteada do seu nome. A escola passou a ser o locus dramaticus do módico de engenharia social admissível pelo catecismo liberal, e parece querer ser «o cesto de papéis da sociedade – receptáculo de políticas nos quais são depositados, sem cerimónia, os problemas não resolvidos e insolúveis da sociedade».
Na Grécia clássica, o pedagogo era o servo incumbido de levar o filho do amo aos mestres. Não raras vezes, «escolhia-se para este cargo alguém que, devido à idade, a ser aleijado, ou a sofrer de outros defeitos, fosse incapaz para os serviços domésticos», mas pudesse ainda sobraçar os apetrechos escolares do seu jovem amo. Outrora, o pedagogo levava o juvenil à escola, hoje, penosamente, tenta mantê-lo lá a todo o preço pois, como dizia Epitecto, "todos os lugares são cárceres se aí não desejarmos permanecer".

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