quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

NA PONTA DA LÍNGUA



A linguagem, é sabido, foi criada para cortejar as mulheres e para nos enganarmos alegremente uns aos outros. Esta teoria é conhecida dos portugas, que fazem dela um uso empírico proficiente e loquaz. Ter tudo na ponta da língua é o píncaro da argúcia a que ambicionam os nativos, que a musculam e aceram sem contudo dar com ela nos dentes. Não cuidando dos equívocos semântico-eróticos da expressão ter tudo na ponta da língua, fixemo-nos na tese e no argumentário que proponho defender. Eis a tese: a causa prima da lentidão no crescimento do país radica no destreino das virtudes ilusivas e trafulhas que os portugueses exibem profusamente, mas que não podem exercitar no contexto europeu porque não falam inglês. É verdade que da nossa língua se vê o mar, como dizia o Vergílio Ferreira, mas dela não se lobrigam os mercados financeiros nem se divisa o Adamastor da economia global, do ciberespaço e da cibercultura.
Os limites do nosso mundo são sempre os limites da nossa linguagem (Pace, Wittgenstein!), e é por isso que arremedamos a anglicização generalizada para não morrermos à míngua da globalização e do progresso económico. De cada vez que uso franchising, o meu mundo aumenta dez centímetros; se for leasing, factoring ou open market, infla qual balão rumo ao éter. O perigo do embuste persiste sempre. É por isso que quando falo com vendedores de produtos de informática, economistas, bancários - que falam uma espécie de língua bífida alienígena -, e ouço downstream, spread, browser, misturadas em amálgama com o idioma indígena, fico em estado catatónico, saco do meu Technical Dictionary, peço um sofá e dois cafés duplos e tenteio as páginas com a esperança ténue de encontrar o significado e não cair na esparrela.
É por tudo isto que devemos pedir encarecidamente a quem de direito. Engenheiro Sócrates, já que do portunhol não pode, liberte-nos do hibridismo do portuglês! Ensine-nos só o Inglês! Os portugueses estão confusos com as misturas de línguas; a antiga mestria na arte de bem ludibriar falando está em desuso porque, falando mal várias, não atinamos em nenhuma com mestria. Ponha-nos, ex abrupto e com um símplice simplex linguístico, na rota do progresso e da nossa vocação unilingue, e verá subir o PIB o Rendimento Per Capita, os resultados do PISA e demais índices de felicidade.

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