O PEDAGOGO 2
"O efeito que a paternidade pode ter sobre o intelecto de um adulto é absolutamente devastador.”
Diogo Mainardi
Rousseau sabia-o e apressou-se a enviar a sua prole de bons selvagens para um orfanato a distância prudente. Platão recomendava que a educação fosse uma responsabilidade pública da Pólis e os gregos criaram mil e um expedientes para libertar os adultos da coexistência pouco filosófica e racional com os juvenis. O pedagogo - escravo incumbido da penosa missão de levar a criança à escola - é a figura da atemporal servidão a que as crianças submetem os adultos e para a qual não se prefigura nenhuma salvífica emancipação (a pedagogia obriga-se hoje a ocupação similar: em vez de levá-las à escola, tenta mantê-las lá).
O que fazer? Cumprir o programa de ansiedade e angústias, sem apelo nem agravo, e entrar no desvario hiperactivo da parentalidade quotidiana.
Eis o que vos espera: a escola, os tempos livres, o tempo será insanamente ocupado em “actividades” com agenda de executivo, para que nenhum presumido talento deixe de se manifestar em toda a sua glória; a natação, o ballet, o inglês, a informática, a música transformarão os horários das crianças e dos pais (por “arrastamento”, literalmente) em horários de executivos workaolics, cheios de rabugens, conflitos, ambições megalómanas, frustrações, ansiolíticos. A ilusão meritocrática, o alpinismo social e o rankismo agravarão a provação: as alegrias e tristezas da excelência/mediania escolar serão percepcionadas de forma desfocada, levando os pais a diagnósticos divertidos sobre os rebentos - a idiotia ou a genialidade,não raras vezes minudentemente aferida pelo olho clínico dos Psis.
Lutar para que o seu rebento trepe ao cume da pirâmide social - sem perder o equilíbrio e a sanidade mental - é a tarefa hercúlea dos pais para quem, não raras vezes, a existência se concentra em fazer do filho(a) um nababozinho da clínica ou das leis.
Não procurem mais. A felicidade existe. Há quem assevere que a entrevê pelo canudo excelente da meritocracia e do sucesso, que é hoje a derradeira expressão - neurótica e narcísica - do “ideal” numa sociedade sem “ideais”.
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