domingo, 17 de outubro de 2010

Turismo e Viagens: as Grandes Evasões Bárbaras 2



Como pensar o turismo, filosoficamente? A questão, deveras “pop philosophy”, foi lançada pela revista Philosophie a Frédéric Nef, Director de estudos em Ehess, membro do Instituto Nicod e do Instituto Marcel Mauss, filósofo francês com perambulações árduas nas muito anglófilas áreas da Ontologia , Lógica e Metafísica.

Duas nótulas sobre a entrevista:

Primeiro: O turismo é uma “experiência metafísica de rompimento com o quotidiano fundada no espanto”. O espanto (Thaumaston), sabemos desde os gregos, é a conversão do olhar que predispõe e concita à filosofia. Toda a filosofia nasce “do espelho do olho” e toda a experiência da viagem é, congenialmente, uma experiência filosófica.

Segundo: Existem diferentes formas de turismo:
- A viagem de recreação a destinos exóticos, na qual, estranhamente, nenhum espanto e estranhamento é já possível, devido à saturação imagética dos travel channels, da publicidade das agências, do documentarismo geográfico, do barbarismo invasivo do turismo.
- O turismo elegíaco e memorial , que visa propiciar uma tomada de consciência emocional identitária, a busca de um rasto, a reverberação de um acontecimento arquetípico.
- O turismo psicológico, fascinado pela procura e descoberta dum centro espiritual e a refundação e "busca narcísica de si próprio".
- O Heimatturismus, o turismo do país natal e o retorno fruste a um espaço-tempo primevo e inaugural.
- O turismo hiperreal do real negativo simulado, em que é possível ser um mexicano a realizar a caminata nocturna para os EUA, um chinês nas aldeias recém destruidas de Sichuan, um palestiniano em Gaza nos dias de bombardeamento.

Ora, depois de ler tão douto arrazoado e a caminho do sofá, lembrei-me do Lawrence Sterne de “Uma Viagem Sentimental” que, mofino, escreveu:

“Os ociosos que deixam o país natal vão para o estrangeiro por alguma razão ou razões que se podem derivar de uma destas causas gerais –
Enfermidade do corpo,
Imbecilidade do espírito, ou
Necessidade inevitável.”

Sentei-me e aqui jazo.

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