sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Enciclopedismo XXI


Desde os 620 livros de Varrão às Etimologias de Isidoro de Sevilha, passando pela Historia Naturalis de Plínio e até à iluminista Encyclopédie e às actuais Britannica, Universalis e Enaudi, a pulsão Enciclopedista cunhou, indelevelmente, a forma mentis da Cultura Ocidental. Graças a Isidoro de Sevilha, que deveio Santo e orago padroeiro da Internet, a Wikipédia fará amanhã uma década e o enciclopedismo parece reviver numa espécie de cérebro fora-de-bordo-mundial e configurar a noosfera autopoiética de um saber transiente e universal.
Mas o que nos trouxe a Wikipédia? Demasiadas coisas, algumas das quais ainda não claramente inteligíveis. Duas pequenas notas:
- em primeiro lugar, a techné do hipertexto aplicada à Wikipédia permitiu a extensão quase ilimitada dos recursos diagramáticos e remissivos da linguagem ( exponenciação ilimitada das possibilidades da Galáxia Gutenberg), criando uma textualidade autopoiética reticular (que inclui fotografias, tabelas, vídeo, mapas, etc.) dotada de uma generatividade e legibilidade ilimitadas e impensáveis noutras enciclopédias;
- em segundo lugar, a Wikipédia permite anular as constrições espácio-temporais em relação ao acesso às fontes do conhecimento, tornando-as virtualmente presentes e integral e instantaneamente acessíveis.
Não devemos, é claro, apoucar os problemas da sua credibilidade, legimidade, erro, engano, autoria, tal como o efeito delusório que advém do pretenso acesso ao saber ilimitado. Mas, bem vistas as coisas, devemos ser optimistas. Não é a Wikipédia, como já alguém escreveu, o lugar de cruzamento entre a ars mnemonica e a ars inveniendi?

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