domingo, 2 de outubro de 2011

Théorie de la Jeune Fille


Já tínhamos alvitrado que a reflexão sobre temas e ícones da "Cultura Popular" é o novo modismo philo. É possível, sem grandes delongas exploratórias, ouvir Žižek perorar sobre o filme Matrix, ver o matemático, filósofo e tintinólogo Michel Serres consagrar uma obra a Hergé, ou ler o devotamento enófilo de Roger Scruton no seu livro I Drink Therefore I Am.
Alguma filosofia contemporânea está possuída por um impetus micrológico, que a impele a um labor de filigrana conceptual sobre ninhices de grande relevância filosófica. Um impetus micrológico que, aliás, impulsiona quer o tecnicismo da tradição analítica (em que um paperzinho sobre as minudências das modalidades de Dicto e de Re pode ser tão relevante como a grande síntese sobre a Secularização, de Charles Taylor), quer a flânerie intelectual de alguma filosofia francesa, que não se deixa maravilhar nem pelo céu estrelado nem pela lei moral dentro de si.

Pierre Péju é escritor e colaborador da revista francesa Philosophie, escrevendo habitualmente e com proficiência sobre a infância. É também um especialista na Théorie de la Jeune Fille, à qual consagrou uma conferência que vem publicada no número de Setembro. De Helena de Tróia e Diana - deusa da caça que se vegetaliza para se furtar ao desejo – até ao dealbar dos anos 2000 em que a rapariga jovem se transforma numa princesa pós-moderna e signo da mercantilização generalizada, eis a a filosofia na sua deriva micrológica. Roland Barthes iria adorar.

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