Quando, há alguns anos atrás, o Ministério da Educação publicou essa magnus
opum sobre o comportamento decente do
docente /vigilante às provas de aferição do 9ºano, o Manual do Aplicador, desde logo se soube que o pouco siso daria
lugar ao riso e ao absurdo. Quando, há alguns anos atrás, o furor regulamentador do
ministério da educação definiu, até ao ridículo e à ninhice, todo o processo de
aplicação dos exames, tratando os professores como imbecis, a derrisão já
espreitava, escarninha, mofenta. Esta gente não percebe que quando se quer ser
obsessivamente minucioso a minúcia nunca basta, e desatou a
regulamentar o bom senso como se ele fosse a coisa mais mal distribuída nos
professores. E, nas reuniões preparatórias, perguntou-se: a que velocidade deve andar na sala o professor vigilante para não
perturbar a quietação do momento? As escolas darão graciosamente umas
pantufinhas furta-passos? A garridice do vestuário é permitida? Não ofuscará a
inteligência do examinando? Os rótulos das garrafas de água devem ser
retirados? Não podem conter informação à sorrelfa?
O ministério diz que há centenas de queixas: alunos que encasquetam o tictac
dos professorais relógios e desatinam; alunos perturbados pela garridice taful
e tamanho de saias, blusas e demais formosuras das professoras; alunos nevrosados
pela chiante meia-sola; alunos a quem petrifica o miolo pelo simples olhar do
professor vigilante. Há queixas que não lembram ao diabo, mas a minudente
lógica ministerial a todas provê, prevê,
regulamenta e, finalmente, a todos arregimenta para o seu zeloso cumprimento.
Agora que os exames se preparam para ser a grande via crucis para a perfeição do sistema, as notícias não são boas.
Preparem-se, amigos professores! Ouve-se e teme-se. Ouve-se que o ministério se
prepara para reeditar, em edição revista e aumentada (dois volumes, 500 páginas), o Manual do Aplicador. Ouve-se que no índice remissivo só a palavra fraude terá 232 a entradas. Temem-se
longas sessões de laboriosa exegese, milhentas horas de formação creditada,
quiçá teses de mestrado e doutoramento. Teme-se que o Manual seja uma espécie
de Código de Hamurabi, a Cabala.
Teme-se, enfim, que não responda à presuntiva questão: e se, de repente, um examinando lhe oferecer flores?
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