Em 2004,
num debate entre o filósofo Jürgen Habermas e o Cardeal Ratzinger, o primeiro
advogou que a compreensão da tolerância nas sociedades pluralistas reclama de
crentes e não crentes o reconhecimento da persistência
indefinida de um dissenso. Um dissenso, escrevemos nós, sem mútuas
reverências, leis da blasfémia ou persignações dialécticas (que mesmo muitos
liberais predicam e praticam), aberto ao exercício racional, ao humor, à eironeía socrática, e àquilo que, no Viver No Fim dos Tempos, Slavoj Žižek chama
uma crítica desrespeitosa e não
condescendente da religião (e, mutatis
mutandis, da política), isto é, uma crítica desrespeitosa das suas pretensões de verdade e natureza sagrada.
Graças a Deus, todas; graças com Deus, nenhuma. Numa sociedade pluralista não há lugar para o rifão piedoso da minha avó Maria.
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