terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

No Future



No número de Fevereiro da revista Philosophie, Michaël Foessel, autor do Après La Fin Du Monde : Critique De La Raison Apocalyptique, em diálogo com o prémio Goncourt 2012, Jérôme Ferrari, expende algumas razões explicativas do milenarismo e catastrofismo contemporâneos. Para além das razões que devêm da perda de influência do Ocidente nos planos económico, político, ideológico - como se o fim de um mundo em que o Ocidente é o Alfa e o Omega devesse coincidir com o fim do mundo – e das razões que relevam do aquecimento global, do nuclear e da limitação dos recursos naturais – que transmudaram a profecia religiosa do fim do mundo num prognóstico racional -, Michaël Foessel refere também razões sociológicas. Glosando o Pierre Bourdieu das Méditations Pascaliennesas desigualdades não são só sociais, mas temporais e simbólicas -, Foessel afirma que a possibilidade de saber como será o amanhã, isto é, de organizar e de planificar a sua vida a médio e a longo prazo, está cada vez mais reservada às elites. Privados de prospectiva, os desmunidos, os desempregados, os trabalhadores precários vivem num horizonte temporal de meses, semanas, dias, e, incapazes de se projectarem no futuro, consideram que toda a sociedade se encontra à beira do abismo.
Na Inglaterra da década de setenta o jovem Martin Amis escrevia  everything seemed ready for the terminal lurch e os Sex Pistols cantavam no future. Andamos a morrer há demasiado tempo.

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