Tremendista, voltairiano
e ferino no juízo, wildiano no diletantismo e na facécia, para desenfado da
crítica musical do tempo, Miguel Esteves Cardoso cavilou em inúmeras crónicas sobre
a futilidade cintilante da Pop e a
sua efemeridade. Paradoxalmente, apesar da caducidade do seu objecto - a música
Pop, arte popular das menos importantes
- e do reconhecimento da insignificância do seu labor crítico, algumas das suas
críticas em o Jornal e no Se7e são textos perenes a desafiarem a desmemória do
texto jornalístico.
No Se7e de 29 de Janeiro
de 1981, Miguel Esteves Cardoso começava um texto incensório sobre Vini Reilly
e os Durutti Column citando Coleridge - os
cisnes cantam antes de morrer – e não seria nada mau/Se certas pessoas
morressem antes de cantar -, e em verdade vos digo que o meu fideísmo MEC
pode asseverar que nunca se escreveu uma crítica tão bela a Vini Reilly e os
Durutti Column.
Miguel Esteves Cardoso
está de volta com o livro de crónicas Como é Linda a Puta da Vida, mas a obra deixa-nos ougados. Em boa verdade, eu
queria era ver o MEC a fazer crítica musical hebdomadariamente, e lê-lo, sei lá, talvez a
citar Keats e Aristófanes numa crítica ao último dos Dirty Projectors.
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