Há para aí alguns farisaísmos que fogem das analogias como o diabo da cruz, e que, depois de treslido
este texto do Daniel Oliveira, pespegam-lhe com o exprobatório Arrenego-te! Arrenego-te! Arrenego-te! Um,
aqui, puxa logo do revólver quando ouve falar de injustiça do sistema
social e económico (como, aliás o Papa fala); aqueloutro, ali, dos professos da
caritas, prefere a caridade à justiça
e, em remate lapidar, irá lembrar que serão os
mansos a herdar a terra.
A boa nova do Evangelii Gaudium é a boa nova
primigénita do ethos cristão: o
exercício da caridade cristã envolve sempre uma perturbação, um pudor e
sobressalto moral (os apelos à discrição na dádiva – quando derdes esmolas, que não saiba a vossa mão esquerda o que faz a
direita – são disso exemplo), o que faz com que ela seja sempre um bem
menor ao serviço de uma moral provisória, superada por uma outra que saciará os famintos e sedentos de justiça - o bem
maior.
Um verdadeiro cristão
pode dar por caridade o que é devido por justiça, mas nunca o fará sem pudor e
esperança: o pudor de não haver justiça, a esperança de que ela possa ser
feita. Na verdade, o cristão terá de pensar, com Chamfort, que é necessário ser justo antes de ser generoso, como é necessário ter camisa antes de pôr as
rendas, e um cristão pragmático (que suspeite da economia da salvação) não deixará de o ser já. Boas novas, pois,
aleluia!
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