sábado, 28 de dezembro de 2013

Diário dos perplexos/O ministro do tempo

Há um par de anos, perguntaram ao filósofo Paul Virilio o que faria se fosse presidente da república. Criaria um ministério do tempo, respondeu: do tempo que passa, horológico; do tempo em que se faz, próprio da duração das actividades humanas; do tempo que faz, isto é, do clima. 
Segundo Virilio, até hoje a política ocupou-se sobretudo do espaço, da organização dos territórios, dos traçados das fronteiras. A política foi sobretudo geopolítica. Ora, dizia-nos Virilio, o aquecimento climático e a aceleração da história – que leva os governos a reagir em tempo real, dando a impressão de agitação e impotência e fazendo entrar a nossa civilização numa fase de obsolescência e senilidade – deveriam compelir-nos a pensar em termos de cronopolítica e de meteopolítica. Ora, tudo isto nada tem a ver com o ministro que resolveu colocar na sede do seu partido um relógio que conta de forma decrescente o tempo que falta até a troika se ir oficialmente embora, e que é, pois claro, mais da ordem do ciceroniano o tempora o mores.

2 comentários:

  1. Raios, isto é quase o post do ano (o melhor, contudo, é o geopoema do Galopim de Carvalho :)

    p.s. - 6695242 1302 (donde concluo que não sou um robot)

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