sábado, 8 de novembro de 2014

Vexa achou graça ao efeito paródico do ministro da economia - que, não sendo um profissional do espírito e não tendo por certo lido Bergson, obteve um efeito cómico transpondo a expressão natural duma ideia num outro tom -, porque só consegue ver o governo sub specie theatri

Vexa achou graça ao efeito paródico do ministro da economia - que, não sendo um profissional do espírito e não tendo por certo lido Bergson, obteve um efeito cómico transpondo a expressão natural duma ideia num outro tom -, porque só consegue ver o governo sub specie theatri. Vexa sorri, escarninho, quando ouve o parlapatão Portas, o enfátuo Passos, porque anda a ser apoquentado pelo espírito mofento do comediógrafo grego Aristófanes. Pois se assim é, fique sabendo que não é o único. Tenho um casal amigo que, depois da reza cursiva do pai nosso e estirado na cama, pronuncia em voz alta o nome dum governante e gargalha sonora e alvarmente. Joseph Conrad, que escreveu ser o governo em geral, qualquer governo em qualquer lado, uma coisa de comicidade excelente para uma mente inteligente, fazia o mesmo para se livrar da neurastenia. Ainda hoje, eu próprio, mais sorumbático, depois de corrigir cinquenta testes e saber que o Governo vai dar dinheiro às câmaras que conseguirem despedir professores, pronunciei sotto voce "Crato!","Crato!", lembrei-me da fórmula errada do concurso, revi-o de relance a arengar rigor e saber formular num programa de televisão, e disse para comigo: ora aí está um gajo com piada, Paulo!

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