Há uma cultura do
ressentimento, larvar e impenitente, nos sincretismos marginais de algumas
religiões: ressentimento contra a secularização das mundividências;
ressentimento contra a laicidade do Estado, da Política e da Cultura (vertida
na lockeana afirmação de que uma igreja é uma societas spontanea, livre e voluntária, à qual não corresponde,
como
na comunidade política, nenhuma necessidade
ou poder coactivo sobre membros e não membros, e que deve dispor como única
arma a prédica e a exortação); ressentimento pela menorização da sua influência
e poder simbólico; ressentimento, enfim, contra o experimentalismo da vida
moderna. Este ressentimento clérigo-obscurantista disseminou-se pelo pensamento
neo-con, nos incontáveis literalistas
bíblicos/corânicos, no filo-criacionismo cientista dos adeptos do Intelligent Design, e deve,
naturalmente, merecer a pronta exprobração de qualquer homem ilustrado. Mas não
tenhamos ilusões: como signo de um certo retorno pendular do sagrado, o retorno do sacrílego e do blasfemo é também o retorno da violência religiosa (o sagrado pende
entre o êxtase e o furor), porque, como relembra a revista Point citando Leo Strauss, as
doutrinas da tradição não foram rebatidas, foram expulsas pelo riso.
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