Perguntado por que
razão nunca se tinha aventurado na ficção, Eduardo Lourenço respondeu, cito de
memória, que lhe faltava o sentido do concreto
que a literatura acolhe. Roth, relembro agora, contrapunha antiteticamente a Literatura,
essa grande particularizadora, à generalizadora Política. Mas a literatura também
é capaz do universal concreto, do
aparte narrativo que interpreta um tropismo
cultural, da personagem que revela uma forma
mentis intersubjectiva. Releio em Agustina que buscamos viver uma ideia de nós próprios, e esta frase tem o
laconismo enigmático de um aforismo de Nietzsche e a miríade de pixels do rosto de Sócrates na
televisão. Releio John dos Passos, que queria Paris de um trago como uma ostra, e aqui está a forma mentis, e aí está o rosto a ficar mais
nítido e concreto.
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