De Singer, do Animal Liberation, até ao The Case For Animal Rights, de Tom
Regan, passando por nomes como Gary Francione e Bernard Rollin, confirma-se a
existência de uma ensaística filosófica pletórica sobre os direitos dos animais.
Das críticas ao especismo e antropocentrismo, ao reconhecimento da senciência
animal, passando pela aplicação aos direitos dos animais de tradições éticas reconhecíveis,
há um argumentário estuante que, malgrado o activismo de associações de defesa
de animais, e até de partidos políticos, permanece recluso na cidadela
académica. Leio-o, releio-o, e olho para o amor solícito e incondicional das
minhas sobrinhas, que transforma a casa dos avós em refúgio terminal de todos
os párias não humanos. Se acaso não gostassem de animais, se acaso os
maltratassem, nenhum dos sobreditos argumentos teria a força suasória para a indiferença
se transmudar no seu cuidado e desvelo. Mas há um texto de Claudio Magris que nos
fala da “irredimível dor dos animais,
povo obscuro que acompanha a nossa
existência”, e da “treva que se acumula
em nós com a morte dos seres vivos de que nos nutrimos”. A prosa de Magris
fulge com a evidência da estrada de Damasco paulina e ficamos momentaneamente
cegos. Depois, depois vemos melhor.
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