quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Internacional Citacionismo/ Magris: "Chegou a hora em que sair do Partido Comunista já não é a perda da totalidade e isso poderá ser uma razão para se não sair dele".

« Os que romperam com o comunismo estalinista deixaram-nos uma grande lição, porque conservaram do marxismo a imagem clássica e unitária do homem, uma fé no universal-humano que por vezes se exprime, com ingenuidade, nas formas narrativas do passado. Mas a sua humanidade, que das derrotas precoces dos sonhos havidos não concluía pela legitimidade de uma licença intelectual irresponsável, é muito diferente da leviandade dos actuais órfãos do marxismo, que, desiludidos por este último se não ter revelado o «abre-te Sésamo» da história se entregam a estridentes ataques contra aquilo que ontem ainda lhes parecia sagrado e infalível.
(…)
Ficarmos órfãos das ideologias é natural, como o é ficarmos órfãos dos nossos pais; é um momento doloroso, que não implica, contudo, a dessacralização do pai perdido, pois não significa afastarmo-nos do seu exemplo. A militância política não é uma igreja mística onde tudo está em tudo, mas um trabalho quotidiano, que não redime de uma vez por toda a Terra e se encontra exposto a erros, mas permanecendo pronto a corrigi-los. Também para o marxismo chegou a hora liberal desta laicidade, que não aceita idólatras nem órfãos do Vietname, mas forma personalidades maduras, capazes de enfrentar as desilusões sempre recorrentes. Chegou a hora em que sair do Partido Comunista já não é a perda da totalidade e isso poderá ser uma razão para se não sair dele. »

Claudio Magris

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