A extensão das actas
escolares ameaça sobrepujar os nobiliários, os cronicões do Mosteiro de Santa
Cruz de Coimbra e os romances de Jonathan Franzen empilhados. Por isso, e para
que se comecem a publicar tais cartapácios em edições críticas, revistas e
anotadas, aqui lavro de novo esta pequena definição que, depois de lida e aprovada,
será votada ao olvido pela retentiva .
Acta,
s.f.
registo escrito da logorreia ociosa de congressos e reuniões; na escola, o
único género literário conhecido e cultivado, com os consabidos recursos
retóricos, as minudências especiosas, a sintaxe soporífera. O género é
cultivado sempre que haja um ajuntamento de pelo menos dois professores, embora
tenha havido notícia de solilóquios vertidos em acta; a pergunta “quem faz a
acta?” costuma gerar um esquema responsivo behaviorista E-R, que se manifesta
em reflexos catatónicos amplamente descritos pela literatura: fixação evasiva
na tampa da caneta; olhar hagiográfico suspenso num ponto de fuga;
ensimesmamento proprioceptivo nos ruídos digestivos e nas luras dos queixais;
contrariamente ao que se diz, uma acta não deve ser um relato verdadeiro, mas sim
um relato verosímil, isto é, semelhante à verdade. Não se preocupem pois com as
pequenas imprecisões e omissões. Poucos se lembrarão do que se passou
integralmente e, destes poucos, pouquíssimos quererão ver a acta refeita e
relida – acta ne agamus (não cuidemos do que está feito).
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