quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

COMO SER UM FILÓSOFO ANALÍTICO EM APENAS CINCO LIÇÕES



1. Quando ouvir falar de Cultura puxe logo do revólver. Não glose os motes culturalistas consabidos e pense e escreva como se nunca tivesse lido nada ( não se esqueça que os continentais escrevem como se tivessem lido tudo). O objectivo é ascender ao barthesiano “grau zero” da bloomiana “angústia da influência”. Às urtigas com o “círculo hermenêutico” do urticante Gadamer!

2. Argumente sempre. Melhor! Mesmo que não argumente, diga que vai argumentar, que está a argumentar e que acabou de argumentar. Mas se o fizer, meia dúzia de
conectores infero-argumentativos quase lógicos de bolsilho resolvem o problema.

3. Atenção ao barroquismo parentético-citacional. Há uma relação inversamente proporcional entre o número de citações e o número de filosofemas originais. A citação pode ser um atalho do pensamento, mas, como diz comummente o povoléu, quem se mete em atalhos mete-se em trabalhos.

4. A metáfora e a analogia devem ser usadas com parcimónia. São uma espécie de indolência do pensamento e uma concessão à literatice. Nada de maneirismos à la Derrida (Vade Retro! Abrenuntio!). A ideia do escritor-filósofo é demasiado século XVIII, demasiado francesa, em suma, demasiado demodée (desculpem lá esta palavrinha, mas é tão eufónica!).

5. A verdadeira filosofia, a nossa, é um labor de filigrana conceptual ( Pace Frank Jackson!). Mais vale um paperzinho sobre as minudências das modalidades de Dicto e de Re do que a Grande Síntese sobre a Secularização do Charles Taylor. Não se esqueçam que, devido à especialização filosófica, sabemos cada vez mais de menos e quiçá, futuramente, não saberemos tudo de nada.

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