domingo, 14 de novembro de 2010

Slavoj Zizek (Made In China)


















No Expresso, Henrique Raposo apodou-o, com liberalidade, de “Althusser do nosso tempo” e comprazeu-se nessa espécie de exprobração remissiva. Desidério Murcho, no Blog da Crítica, postou sobre Zizek e a política contemporânea a partir de uma entrevista do pensador esloveno à BBC, e os automatismos de simplificação analítica revelaram a singeleza símplice dos simples. Não fosse a escrita avisada de António Guerreiro e Zizek passaria, em Portugal, por ser o filósofo pop que “mistura marxismo com cultura pop e psicanálise”, isto é, um psicobolche seduzido pela cultura popular.
Mas Zizek pensa bem. No seu último livro publicado pela Relógio de Água, Da Tragédia à Farsa, há um capítulo azado intitulado Capitalismo com Valores Asiáticos… Na Europa, no qual Zizek, invocando Lee Quan Yew - o líder de Singapura que inventou e concretizou o chamado “capitalismo com valores asiáticos” -, sugere que esta forma autoritária de Capitalismo se tem vindo a difundir por todo o globo, e assevera o seu cepticismo em relação a uma presuntiva conaturalidade de capitalismo e democracia que, realizando o primeiro, garantiria teleologicamente o segundo. Pergunta Zizek: “E se a « combinação viciosa do knout asiático e do mercado de títulos europeu » (segundo os termos da definição que Trotski propunha da Rússia czarista) se revelasse economicamente mais eficaz do que o capitalismo liberal? E se estivéssemos perante um sinal de que a democracia, tal como a entendemos, deixou de ser condição e motor do desenvolvimento económico, passando a constituir um obstáculo para ele?”

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