sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Confiança e Medo na Cidade (Bauman e "O Senhor do Adeus")
















Figuras públicas como Rui Zink, Ricardo Sá Fernandes e Leonor Poeiras juntaram-se às cerca de duas centenas de pessoas que se concentraram no Saldanha (Lisboa) para se despedirem do "Senhor do Adeus".

Aquele acenar de mão bem como aquele sorriso pelo qual ficou conhecido João Manuel Serra, baptizado pelo povo como o "Senhor do Adeus" e que faleceu na quarta-feira, aos 79 anos, levou os lisboetas a prestar-lhe uma sentida homenagem na qual, tal como ele, disseram adeus aos inúmeros carros que por eles passavam. O objectivo final foi despedirem-se do autor desse adeus e desse sorriso gratuitos que a tantos fazia felizes. "Este está a ser o mais bonito velório a que assisti nos últimos tempos e que, provavelmente, irei assistir nos próximos", frisou, em declarações ao DN o escritor Rui Zink, que conhecia João Manuel Serra das inúmeras passagens que fazia a pé pelo Saldanha.

Público 12/11/10


O que é uma cidade? A resposta também pode ser a de Zygmunt Bauman: uma cidade é um sítio “onde os desconhecidos convivem numa estreita proximidade sem deixarem de ser desconhecidos”. Os desconhecidos, na sua diversidade multitudinária, geram um estranhamento suspeitoso, na medida em que “albergam intenções, pensamentos e modos de agir perante situações comuns que nos são desconhecidas” e, diremos nós, ameaçadoramente impreditíveis. Na medida em que os desconhecidos são “a personificação do risco” citadino, o hodierno melting pot urbano pode gerar uma “paranóia mixofóbica” adversa à variabilidade dos tipos humanos existentes nas cidades.
Porém, diz-nos Bauman, a cidade é ambivalente. Se o estranhamento do desconhecido ocorre sob o signo do risco e da suspeita, também é verdade que, intermitentemente, ocorre sob o signo da atracção e chega a fórmulas de conciliação e a apaziguadores modi convivendi. Mixofilia e Mixofobia coexistem em todas as cidades.

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