quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Auschwitz, 27 de Janeiro de 1945


No trabalho não concluído intitulado Projecto de Pesquisa sobre os Campos de Concentração , Hannah Arendt escreveu: “o campo de concentração tem objectivo último a dominação total do homem. Os campos de concentração são laboratórios para a experimentação do domínio total, porque, a natureza humana sendo o que é, este fim não poder atingido senão nas condições extremas de um inferno construído pelo homem.” Agamben, mais tarde, enxertando uma figura do direito romano arcaico, o homo sacer – o cidadão romano banido do corpo político, desapossado dos seis direitos e exposto à iminência da morte - referiu que o campo de concentração (tal como o grand enfermement, em menor grau, no espaço das prisões e hospitais para Foucault) opera a transformação do campo político em espaço da vida nua, isto é, um espaço no qual a vida qualificada (o bios aristotélico) é sujeita no mais alto grau à dominação e cálculo do Biopoder.
Há 64 anos Auschwitz abriu os portões e hoje, pela primeira vez, um sobrevivente de etnia cigana, Zoni Weisz, discursou durante a celebração oficial das vítimas do nazismo perante o olhar grave de Angela Merkel. Berlusconi e Sarkozy não estavam presentes, e por isso não puderam olhar gravemente nem relembrar aquilo que nunca relembrariam se estivessem presentes: a liberdade era aquilo mesmo - a luta da memória contra o esquecimento.

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