sexta-feira, 3 de junho de 2011

Literatura & Eleições



Agora que os aparelhos partidários se preparam para os delíquios e efusões pós-eleitorais, o que diz a literatura, essa grande particularizadora, sobre a generalizadora política, para usarmos a oposição antitética de Roth em Casei Com Uma Comunista?

Recentemente, o crítico literário António Guerreiro citava Bourdieu e o paradoxo da objectivação para denotar a atitude que consiste em olhar de fora, como um objecto, as pessoas, as coisas da vida, a vida intelectual, suscitando a revolta das pessoas assim objectivadas.
A descrição objectiva das peripécias peripatéticas de um candidato em campanha, pari passu, aparentemente neutra, pode ser um inventário cínico, cómico, com eficiência crítica considerável. A política e a encenação da gravitas dos seus líderes, a retórica alambicada, o jantarismo, o pathos patético do patego comicieiro, têm um potencial cómico que, quando objectivado e descrito, permite um distanciamento crítico não despiciendo. Poderíamos concitar aqui, como exemplo de objectivação literária desta ambiência política, uma figura como Fialho de Almeida, o Pontífice de Café, mas apraz-nos mais lembrar Agustina e a sua visão panóptica sobre o grande e o pequeno.


O país estava a funcionar sob a fresca maneira dos politocratas. Já não era uma arte confidencial, era um desempenho de palco, com maquilhagem, provas de alfaiate recomendado, cores conforme o conselho da televisão ...
(...) Desprezavam o aparelho partidário, sempre à beira do stress e que usa as sondagens como quem usa calmantes.


Agustina Bessa Luís

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