terça-feira, 26 de julho de 2011

Boy All Jobs

Supomos que não seja um caso de ergomania, de maratonismo laboral, mas parece ser um exemplo claro de ethos da performance, no qual , como diria Pascal Bruckner, a sobrecarga de trabalho se tornou um sinal ostentatório de potência. Um homem que assim exprime o seu entusiasmo pela vida - exibindo o excesso de trabalho como índice da sua superioridade – ou tem um deus dentro de si, ou vai para administrador da CGD.

Eis os dezasseis trabalhos que o Hércules, segundo o Arrastão, coleccionava em 2010:

Vogal do Conselho de Administração da Brisa Auto-Estradas de Portugal SA; Vogal do Conselho de Administração da CUF, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da CUF - Químicos Industriais, SA; Vogal do Conselho de Administração da CUF - Adubos, SA; Vogal do Conselho de Administração da José de Mello Saúde, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da SEC - Sociedade de Explosivos Civis, SA; Vogal do Conselho de Administração da EFACEC Capital, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da Comitur, SGPS, SA; Vogal do Conselho de Administração da Comitur Imobiliária, SA; Vogal do Conselho de Administração da Expocomitur - Promoções e Gestão Imobiliária, SA; Vogal do Conselho de Administração da Herdade do Vale da Fonte - Sociedade Agrícola, Turística e Imobiliária, S.A.; Vogal do Conselho de Administração da Sociedade Imobiliária e Turística do Cojo, SA; Vogal do Conselho de Administração da Sociedade Imobiliária da Rua das Flores, n.º 59, SA; Vogal do Conselho de Administração da Reditus, SGPS, SA; Vice-Presidente do Conselho Consultivo do Banif Investment, SA; Membro do Conselho Consultivo do Instituto de Gestão do Crédito Público.

Leituras da crise - Ballard e a Gente do Milénio




"O Richard diz que as pessoas que acham que o mundo não tem significado encontram significado na violência sem sentido."


"Mas um acto de violência verdadeiramente sem sentido, disparar ao acaso em cima de uma multidão, prende a nossa atenção durante meses. A ausência de motivo racional carrega em si um significado próprio."


J.G. BALLARD - Gente do Milénio

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Jorge Lima Barreto, o Musonauta (1949 - 2011)




RECO-RECO ou TRATACTUS PORCOMUSICOLOGICUS

A musicologia oficiosa é uma rosquinha de merda de porco - a estética académica nunca desceu tão baixo; dois ou três recos jet set e mais a legião de imbecis ministeriáveis e/ou deputáveis a roncar teorias sobre música e mais o cochon comissário de festival suinóide e os agentes da porcaria, em lavagices capitalizantes; pigs…etnoporquitos cor-de-rosa, instrumentistas que aspiram a cevados compositores, famosos porcalhões do empresariado, berrões a guinchar pelo lugar na chafurdice maxima. Acontece - umas focinhadas na pauta e mais umas iconografias porcinas a armar ao ciberporco, ronco-reuniões, conferências-saca-rolhas como as pirocas dos porcos; sectores votados à música de instituições genoporcinas; netmerda de cochino multicultural, cibercaca musical; musicografia/gamela.
Assim ficamos reduzidos a montes de estrume literário, crítica vendida à ração, propaganda-brucelose – ainda por cima apresentando-se como porcus musice – pocilga político-partidária de qualquer burovarrão - …pimba pigs…todos interligados pela música via TV, exclusivamente caganeira ligeira em dó maior, e na rádio a debitar salsichas com emulsionantes e conservantes; vejam lá! chama-se música àquele pacote mercantil hemorroidal e estandardizado peidolar e grunhir…como acontece entre os porcalhões no lar-doce-lar: putedo de marrã, paneleiragem, peidofilia, fressura, e vice-versa de erotismo cropófago…lamentável! pigs…não interessam nem à Musicologia nem à Veterinária nem ao menino Jesus… narinas de reco, tomadas eléctricas conectadas ao talho da censura, traques badalhocos via satélite, bandeira-forriqueira-cagofonia, terrorismo escroto de berrão - onde os artiodáctilos suídeos se emboligam tipo perfodança ao som de cagadelas new wave…pigs… fato com reflexos asa de mosca da merda, e gravata porky: em limusinas matadouros; mamões! sempre a cobiçar um lugar no pestilento pocilgo da publicidade; varas de júris suinomusicólogos, só para punir ou eleger as estrelas do estrume, pela rara sabedoria de imitar, continuar a fétida pseudo-música canónica; camarilha a babar ideologia musical sebenta, indigna dum leitão da Bairrada que se preze. Pusmoderno, porcópera, escatomerdalogia sónica.
Filas de porquinhos lambões a baterem-se à condecoração, ao prémio, ao subsídio chorudo.
Trabalho multimerda suplementado por uma hóstia de schwein mal cagada dita CD; infodarte reca; um chiqueiro sonoro mixfedor…pigs...enfim…pigs… moral da história: quanto mais a porcalogia musical alçava o rabo mais o sumo porcalhote lhe enterrava o nabo…os sons que daí se ouviam eram escatofetos uma suínaria inaudível….tudo uma grande porcaria…pigs…estamos ameaçados por uma nova espécie genética:
o musoporco.
para o forno, orelhas bem tostadinhas, JÁ!

Jorge Lima Barreto

quinta-feira, 14 de julho de 2011

The Queen Is Dead, Boys




Por aqui também foi assim, ipsis litteris:

O disco saiu há vinte e cinco anos, eu descobri-o há vinte e um. Nunca tinha ouvido nada assim, nunca mais ouvi nada assim. O desaforo lúdico de «The Queen Is Dead», a sinceridade rude de «Frankly, Mr Shankly», o emotivismo apocalíptico de «I Know It's Over», o queixume regressivo de «Never Had No One Ever», a empatia arrogante de «Cemetry Gates», a raiva festiva de Bigmouth Strikes Again», a diferença ofegante de «The Boy with the Thorn in His Side», a troça desabrida de «Vicar in a Tutu», a esperança mórbida de «There Is a Light That Never Goes Out», o hedonismo surreal de «Some Girls Are Bigger Than Others». Nunca me canso disto.

Pedro Mexia - Lei seca

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Moody`s, Merton, Popper e a Self-Fulfilling Prophecy


MOODY`S ACHA QUE PORTUGAL VAI FALHAR TODAS AS PREVISÕES

As medidas de austeridade podem travar o crescimento nos próximos seis a oito anos, avisou ontem a Moody's. Neste cenário, Portugal não fica nada bem, e o relatório da agência refere que o nosso país deverá falhar as metas de défice e dívida definidas pelo Governo.

Jornal de Notícias 2010-08-24


O problema das profecias é dependerem do futuro e não do arbítrio do profeta. Algumas, porém, também dependem de si próprias, possuindo um dinamismo autotélico que impele à sua realização. É o caso da self-fulfilling prophecy na qual o acto de veridicção (dizer a verdade) é também o acto verifuncional de a fazer.
Em 1968 o sociólogo Robert K. Merton cunhou a expressão "self-fulfilling prophecy” e apresentou o exemplo ficcionado de um Banco sobre o qual se augura a bancarrota. Durante o dia os depositantes acorrem com medo pânico aos balcões e, no fim da tarde, o banco caiu na insolvência.
Escreve Merton:

As definições públicas de uma situação (profecias ou predições) tornam-se uma parte integrante dessa situação, afectando por isso os desenvolvimentos subsequentes. Isto é uma peculiaridade dos assuntos humanos. Não se encontra no mundo natural, intocado pelas mãos humanas. As predições sobre o regresso do cometa Halley não influenciam a sua órbita.

Também Popper, no The Poverty of Historicism, distinguiu as predições das ciências naturais – em que a previsão não influi no previsto - das predições das ciências humanas – em que a previsão influi claramente no previsto - , designando este autor a self-fulfilling prophecy como o Efeito Édipo, porque o oráculo desempenhou um papel fundamental na sequência de acontecimentos que realizaram a profecia.
O problema das profecias é dependerem do presente e do arbítrio do profeta, e por isso em verdade vos digo: estamos lixados!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Leituras da Crise - François Dagognet: O Saber do Lixo



Desde há longo tempo que François Dagognet consagra um parte importante da sua obra à construção de uma materiologia, que vai do estudo das ciências à arte contemporânea. Neste livro - um dos mais belos do autor, segundo a contracapa – Dadognet tenteia uma ontologia do mínimo e do banido, do lixo e do detrito, do decomposto e corrompido. Trata-se de ensaiar uma ciência dos objectos e materiais torpes, amorfos, indignos, repugnantes, inúteis, residuais.
Publicado em 1997, Dadognet não aborda ainda as novas formas de lixo e detrito – por exemplo, o lixo dos activos tóxicos bancários e o lixo das dívidas soberanas - , mas a ontologia do desvalor também aqui persistirá: o lixo financeiro também concita quer a uma condenação material (o imprestável), quer a um juízo da falta moral ( a cupidez, os excessos dissipadores).