sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Prémio Ig Nobel da Literatura - Teoria do Adiamento Estruturado


Há um adágio indígena para os dias de trabalho fadigosos em que amontoamos, adiamos, diferimos, protelamos as tarefas impreteríveis, considerado-as sub specie aeternitatis - guarda para amanhã o que puderes guardar, o que não puderes, faz hoje, mas devagar. Vem isto a talhe de foice da atribuição do prémio Ig Nobel da Literatura ao filósofo da universidade de Stanford, John Perry, pela sua Teoria da Procrastinação Estruturada, expendida no artigo How to Procrastinate and Still Get Things Done.
Defende Perry que a essência da procrastinação consiste em pôr de parte as coisas que é necessário fazer, fazendo outras que impeçam que façamos as primeiras. Porque, em boa verdade, procrastinar não significa nada fazer, mas sim fazer coisas aparentemente inúteis que nos quitem da premência de fazer as úteis. Mas como tornar a procrastinação virtuosa e profícua? Defende Perry que o procrastinador poderá motivar-se para fazer as tarefas importantes e necessárias, na medida em que estas tarefas forem uma maneira de não fazer outras ainda mais importantes. E como realizar tal coisa? Estruturar um esquema hierárquico e dinâmico de tarefas, da mais urgente para a menos importante, de modo que a realização das tarefas menos urgentes, mas ainda assim importantes, nos desobrigue das tarefas de nível superior.
O esquema é piramidal e deceptivo porque pressupõe que, num dado momento, as tarefas de topo, impreteríveis, sejam sempre preteridas por outras, percepcionadas como menos importantes ou inúteis, mas mais interessantes. Ora, em rigor, tal não deve ser considerado como demérito da Teoria, porque, amiúde, as tarefas julgadas indiferíveis não o são na realidade.

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