quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Leituras da Crise - Europa era filha do rei da Fenícia...


Na mitologia grega, Europa era filha do rei da Fenícia, Agenor, e irmã de Cadmo. Foi raptada por Zeus que se disfarçou de touro para que sua ciumenta mulher, Hera, não percebesse.
Na narrativa actual, verosímil, os europeus, acossados e cativos, perceberam que a política já não é a tentativa de civilizar o futuro. A autonomia do político, isto é, a potência de se dar e dar um nomos, uma lei, um futuro, foi capturada pela heteronomia do económico, pela privatização eudemonista da utopia, pela encenação figurativa no proscénio mediático.
Diz-nos Innerarity que, perante o poder do mediático e do financeiro, dos mercados e da judicialização, a política se encontra retraída e recalcada por estas lógicas que lhe reduzem o espaço, e que tendem a considerá-la uma actividade ociosamente conflitual e prescindível. Incapazes de civilizar colectiva e comummente o futuro pela política ou, pelos menos, de obstaculizar à sua barbarização regressiva ( da qual a erosão de direitos sociais primordiais é o exemplo), privatizámos a utopia e tendemos a conceber o espaço público como irrelevante em ordem à nossa felicidade, como mero garante do privado, não como ampliação do privado.
Mas as figuras do retorno da política estão aí: o seu retorno mecânico e nómico através do fortalecimento dos seus mecanismos e instituições – sob o signo do pêndulo; o regresso agónico e tenso – sob o signo do Indignez-vous!, do Enragez-vous!, do retorno do recalcado. Em qualquer dos casos, a política é o futuro da Europa, a sua esperança e garantia de liberdade.

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