quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Fumódromo



Em New York, dizem, é proibido fumar no Central Park e em Portugal, a breve trecho, poderá vir a ser proibido fumar nas esplanadas.
O dever da felicidade nas sociedades actuais, escreveu-o Pascal Bruckner, é correlato do dever de bem-aventurança na saúde. Mas a saúde tem o seu martirológico - a via crucis dos ginásios, das dietas, da provação da privação - e é um estado transitório que não augura nada de bom. Vigiar o corpo insurrecto, lugar de ameaça latente, da doença, do prazer vicioso, do excesso de peso, do insidioso colesterol, tornou-se a obsessão da ideologia da longevidade e da juventude que, di-lo Bruckner, é a ideologia das nações envelhecidas e dá do Ocidente a imagem de um serviço de geriatria. Durante séculos tentaram, debalde, salvar-nos a alma. Recusámos. Em boa verdade, não havia nada para salvar. Hoje, querem resgatar-nos o corpo malsão e santificá-lo por uma saúde longeva; querem o são corpo glorioso ressurrecto, do açúcar, do sedentarismo, do tabagismo. Mas continua a não haver nada para salvar – a saúde é um estado transitório que não augura nada de bom, cuja principal virtude é a indiferença para consigo. Naturalmente, continuaremos a preferir a perdição, a morte, a vida.

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