terça-feira, 16 de outubro de 2012

Os Mansos Herdarão a Terra (Salmos 37:11)



D. José Policarpo não gosta do profanum vulgus contestando, indo para grandes manifestações e marchas de protesto. Ao fazer uso da sabedoria prudencial longeva da Igreja, crê apartar o político do religioso e crê não meter prego nem estopa nos conflitos que lavram na sociedade portuguesa. Mas, em verdade vos digo, ao afirmar que o que está a acontecer é uma corrosão da harmonia democrática, da nossa constituição e do nosso sistema constitucional, Policarpo está a fazer a useira e vezeira má política do quietismo ideológico religioso.
A igreja não faz política; cumplicia com ela. A igreja não brada e contende por justiça; arremeda a caridade (não se dê por caridade o que é devido por justiça). A igreja não tem uma práxis política, uma teoria da redenção social; toda a redenção é teológico-metafísica e só os mansos herdarão a terra.

Li recentemente que o ministro das Finanças teria tentado acabar com as isenções do pagamento do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) dos templos e edifícios destinados à formação e à pastoral, mas a Conferência Episcopal Portuguesa, asinha, asinha, invocou a Concordata e eximiu-se ao pagamento.
Em boa verdade, a posição da Conferência Episcopal é concorde com a bíblica questão do tributo, de Mateus 22:21. Inquirida sobre se é lícito pagar o tributo ao Gaspar, a Conferência Episcopal, imperiosa, clama que lhe tragam a Concordata e inquire de quem é a inscrição. Respondem-lhe que de César, e a Conferência, alegórica e salomónica, ordena que se dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, deixando um terceiro excluído, o povoléu, a desembolsar para ambos.  Mas, é claro, o povoléu, manso, herdará a terra.

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