D. José Policarpo não gosta do profanum vulgus contestando,
indo para grandes manifestações e marchas de protesto. Ao fazer uso da
sabedoria prudencial longeva da Igreja, crê apartar o político do religioso e
crê não meter prego nem estopa nos conflitos que lavram na sociedade
portuguesa. Mas, em verdade vos digo, ao afirmar que o que está a acontecer é uma corrosão da harmonia democrática, da nossa
constituição e do nosso sistema constitucional, Policarpo está a fazer a
useira e vezeira má política do quietismo ideológico religioso.
A igreja não faz política; cumplicia com ela. A igreja
não brada e contende por justiça; arremeda a caridade (não se dê por
caridade o que é devido por justiça). A igreja não tem uma práxis política, uma
teoria da redenção social; toda a redenção é teológico-metafísica e só os
mansos herdarão a terra.
Li recentemente que o
ministro das Finanças teria tentado acabar com as isenções do pagamento do
Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) dos templos e edifícios destinados à
formação e à pastoral, mas a Conferência Episcopal Portuguesa, asinha, asinha,
invocou a Concordata e eximiu-se ao pagamento.
Em boa verdade, a posição da Conferência Episcopal é concorde
com a bíblica questão do tributo, de
Mateus 22:21. Inquirida sobre se é lícito pagar o tributo ao Gaspar, a Conferência
Episcopal, imperiosa, clama que lhe tragam a Concordata e inquire de quem é a
inscrição. Respondem-lhe que de César, e a Conferência, alegórica e salomónica,
ordena que se dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, deixando um
terceiro excluído, o povoléu, a desembolsar para ambos. Mas, é claro, o
povoléu, manso, herdará a terra.
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