Timeo
hominem unius libri, temo o homem de um só livro, dizia o Doctor Angelicus. Dizia o S. Tomás, mas
desdiz a prelatura da Opus Dei que, a
crer no Diário de Notícias, ressuscita o defunto Index Librorum Prohibitorum e arrenega 33 573 livros. É obra! Na
Literatura, dos últimos quinze prémios Nobel, só um sai escapo, sendo que os
restantes têm setenta e duas obras proibidas. Nas Ciências Sociais são
indexados muitos e variegados livros, mas vexados por pouco opudeísmo, em
particular, os mestres da suspeita: Marx, Freud e Nietzsche. O corpus delgado da literatura portuguesa
também não se livrou do flagelo e do cilício e, para além do vade retro já canónico ao Saramago (12
livros censurados), aparecem 67 obras de escritores portugueses, Eça
incluído com grande merecimento. É obra!
Os censores do Index Librorum Prohibitorum não têm mãos
a medir nem lápis para afiar, e aqui, justamente, é que a porca torce o rabo ou, para usar uma latinice mais do agrado dos
opudeístas, hoc opus hic labor est. O
furor editorial é tamanho, que do furor censório se há-de furtar muito livro ímpio
a tentar o leitor pio com a letra de forma. O mês passado, por exemplo, o José
Rodrigues dos Santos e duas flausinas da Casa dos Segredos publicaram livros
pouquíssimo católicos e, que eu saiba, ainda não constam no Index Librorum Prohibitorum da Opus Dei.
Sede pois zelosos, irmãos. Se no trabalho e na vida
quotidiana é provável encontrar Deus, toda a gente sabe o que é certo encontrar
em certos livros. E olhem que não é só no Devil's
Dictionary do Bierce.
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