Marx afirmou que a
propriedade privada nos tornou tão estúpidos e limitados, que um objecto só é
nosso quando o possuímos, o que o terá levado a partilhar fraternalmente a fortuna de
Engels. Proudhon, frasista compulsivo, proclamou
que a propriedade é um roubo, depois de ter plagiado a proclamação. Já para os catecúmenos liberais – mesmo para
aqueles que passinham os primeiros passos na passeadeira da alta política – as
privatizações são um arroubo de redenção económica, e o friso dos economistas
coristas, secretários de estado e ministros, apodíctico, assevera que é necessário
retirar o Estado dos negócios. Mas, entre-dentes, o rapazio resmoneia:
Ai os malandrins ronhosos! Ai que a política para eles é a continuação dos negócios por outros meios! Ai os manhosos, que sempre, em
rapina, sobrepairaram sobre o público e o privado! Ai, tomai atenção, pois, à vidinha
vindoura desta matulagem, já que um ministro não é senão um político
em trânsito entre um conselho de administração e outro conselho de administração!
Para eles, os malandrins ronhosos, mais uma
vez, a saramaguiana oração exprobatória.
Oração pelas
Privatizações
«Privatize-se tudo,
privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça
e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for
diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto
privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração
deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a
salvação do mundo… e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a
todos.»
José Saramago –
Cadernos de Lanzarote - Diário
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