quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Diário dos Perplexos/Fresco, esperto, entrando mais na alma do que muito livro santo

Há um novelista enófilo britânico, Lawrence Osborne, que tem uns dichotes interessantes sobre a crendice ignara que é dar 1ooo euros por uma garrafa. Em primeiro lugar, diz o autor do The Accidental Connoisseur, o que define a posição de um vinho nas revistas da especialidade é um misto de marketing e, às vezes, qualidade. Como diz Osborne, há vinhos tão bons como o Lafite por aí, mas nem todos têm a família Rothschild por trás. Em segundo lugar, o acto de superstição que é comprar uma garrafa por esse preço demonstra que os ricos gostam que lhes digam do que eles devem gostar, e esquecem que, garantido um mínimo denominador comum (fermentação minudente, um terroir interessante, bons barris de madeiras nobres), só há dois tipos de vinhos: aquele dos quais gostamos e são para nós criaturas joviais, e os outros. Hoje, por acaso, até bebi um supimpa: fresco, esperto, entrando mais na alma do que muito livro santo, como diria o Eça.

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