Recentemente, o professor José Manuel
Pureza apoucava o interesse em saber se as idas de Vítor Gaspar para o FMI, de
Álvaro Santos Pereira para a OCDE e de José Luís Arnaut para o Goldman Sachs se
deveram à influência do governo e, citando Robert Fox, interpretava-as como
expressão da nebulosa da
governação global, feita
de relações informais entre mercados, governos e instituições internacionais
que governam de facto os países e as suas populações. Nem mais! Engana-se
quem pensa que a globalização é um processo autotélico gerado por um
capitalismo desregulamentado de comércio e mercados livres. Como escreveu
Antonio Negri no Multidão –
Guerra e Democracia na Era do Império, basta uma breve visita às neves de
Davos para pormos de parte esta
ideia de desregulação do capitalismo, pois podemos aí ver claramente a
necessidade que os dirigentes das maiores companhias têm de negociar e cooperar
com os líderes políticos dos estados-nação dominantes e com os burocratas das
instituições económicas supranacionais.
Diz-nos também Negri que a grande lição de
Davos é uma lição antiga: não há mercado económico sem ordem e regulação
políticas, e aqueles que advogam
a libertação dos mercados ou do comércio do controlo do estado não reclamam, na
realidade, menos controlo político, mas simplesmente uma espécie diferente de
controlo político. É também curioso observar como as elites empresariais,
burocráticas e políticas que se reúnem em Davos para haurir os ares frescos da
montanha não necessitam de apresentações recíprocas, pois os investigadores das estruturas
institucionais das empresas e dos serviços do Estado observaram como umas e
outras se desenvolveram paralelamente ao longo de todo o século XX, ao mesmo
tempo que as empresas se inseriam cada vez mais solidamente nas instituições
públicas. Não é pois de admirar, continua Negri, que os mesmos poucos indivíduos
transitem tantas vezes e com tão pouco esforço dos gabinetes governamentais
mais importantes para as salas dos conselhos de administração das empresas ou
vice-versa, no decurso da sua carreira.
Se assim for, e a hipótese de uma nebulosa da governação global,
nada resserenadora, for real, o que pensar agora, sabendo que dela fazem parte
os nebulosos Vítor Gaspar, Álvaro Santos Pereira e o José Luís Arnaut?
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