Já aqui escrevemos sobre a suspeita Borgeana de que a
espécie humana estaria prestes a extinguir-se e que a Biblioteca perduraria iluminada, solitária, infinita, perfeitamente
imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta. E
continua a ser verdade que a descrição Borgeana da Biblioteca arrepia o couro
cabeludo dos professores bibliotecários, que a concebem prestimosa e funcional
como um canivete suíço, convivial e versátil como uma sala de estar.
Nas escolas, as bibliotecas escolares estão atravancadas de computadores
e minguadas de livros e leitores - alunos e professores que não se envergonham de dizer que não lêem, entregues que estão ao infognosticismo das Novas Tecnologias da Informação e da
Comunicação. Em relação a estes últimos, aliás, assevera-me um amigo biólogo,
especialista em espécies autóctones em perigo, que o homo docens, comummente conhecido como professor, se encontra em
vias de extinção. Por incapacidade adaptativa às novas exigências ambientais e profissionais,
o professor, o verdadeiro professor, isto é, aquele que estuda, lê e ensina, irá,
num fósforo, transformar-se numa raridade zoológica. Os seus tropismos
adaptativos (estudar, ler, ensinar) já não são eficazes, e é vê-lo agora a
soçobrar (também de tédio) nas intermináveis reuniões dos conselhos
(pedagógico, de turma, de directores de turma, de departamento, de grupo), que
se transformaram numa morosa logoterapia grupal ou numa burocracia gestionária
interminável. Quando o vemos a arquejar no delírio burocrático dos projectos,
planificações, formações, avaliações, e muitas outras ninhices pedagógico-didácticas,
percebemos que o professor já não é o leitor que dá a ler, e que a escola já
não assenta nesse tabu: o livro. Se perdê-lo é deixar entrar os bárbaros dentro da cidade, aqui-d'el-rei que na escola já entraram.
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