De regresso à Gândara e a Carlos de Oliveira.
Carlos de Oliveira foi um escritor Português, Gandarês desde petiz, e fará 93 anos no dia 10 de Agosto (o facto de não ser visto há trinta anos é coisa de somenos). O romance Casa na Duna abre assim: Na Gândara, há aldeolas ermas, esquecidas entre pinhais, no fim do mundo. Nelas vivem homens semeando e colhendo, quando o estio poupa as espigas e o inverno não desaba em chuva e lama. Porque então são ramagens torcidas, barrancos, solidão, naquelas terras pobres. Mas na Gândara também há as grandes massas orográficas dos grãos de areia, e é aí que, com desvelo minudente de microscopista, o Carlos de Oliveira tenteia os astros.
Contar os grãos de areia destas dunas é o meu ofício actual. Nunca julguei que fossem tão parecidos, na pequenez imponderável, na cintilação de sal e oiro que me desgasta os olhos. O inventor de jogos meu amigo veio encontrar-me quase cego. Entre a névoa radiosa da praia mal o conheci. Falou com a exactidão de sempre:
«O que lhe falta é um microscópio. Arranje-o depressa, transforme os grãos imperceptíveis em grandes massas orográficas, em astros, e instale-se num deles. Analise os vales, as montanhas, aproveite a energia desse fulgor de vidro esmigalhado para enviar à Terra dados científicos seguros. Escolha depois uma sombra confortável e espere que os astronautas o acordem».
[Carlos de Oliveira, "Sobre o Lado Esquerdo"]
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