Porque é que todos os
humoristas da rádio e da televisão são de esquerda?, pergunta o Rui Ramos aqui.
Um espírito como Leo
Strauss diria que as doutrinas da
tradição não foram rebatidas, foram expulsas pelo riso, e, por isso, o riso
seria da revolução e concitaria o rancor da direita: Deus, por exemplo, é hoje
um caso consabido de absent(e)ismo, foi corrido da história, do espaço-tempo,
da eternidade (duração indefinida com demasiados tempos mortos e na qual não se
pode morrer de tédio), e tem uma mera
existência particulada e indiciária ( o bosão de Higgs, a Goddamn Particle!).
Bergson daria o beneplácito e dirá também que o riso é de esquerda quando
enumera as fulgurações e causas do cómico e realça a rigidez da forma, física ou espiritual, individual ou colectiva,
que conduz à exaustão, primeiro, e à assuada social, depois. Ora, nada há de
mais rígido do que o Poder, que, por via desta rigidez, é sempre de direita. O
Poder é sempre, ao contrário do humor, maniqueu, integrista, e um manancial
inextinguível para os chalaceiros (Joseph Conrad escreveu ser o governo em geral, qualquer governo em
qualquer lado, uma coisa de comicidade excelente para uma mente inteligente).
Era esta rigidez maniqueísta do poder soviético, imediatamente percebido como de direita, que motivava o anedotário do
gentio na URSS, empenhado em votar à derrisão tal maniqueísmo. «- Bem vistas as coisas, que é o
capitalismo? – É a exploração do homem pelo homem. - E o comunismo? –
Exactamente o contrário.»
Sem comentários:
Enviar um comentário