Há
lá coisa mais excitante do que o lugar-comum, dizia
Baudelaire. Há lá coisa mais excitante do que um candidato a deputado que,
inábil em dar corpo ao manifesto, dá o
corpo ao manifesto; há lá lugar-comum menos excitante do que uma candidata,
perguntada sobre o porquê de tal decisão, dizer tê-la tomado na plenitude da mulher e da candidata, que
são uma só.
Voltamos a Sloterdijk
que, a propósito da crise da credibilidade política, e num capítulo epigrafado
com uma citação de Juvenal -difficile est
satyram non scribere (é difícil não
escrever uma sátira) - rememora no livro
Mobilização Infinita uma singular tradição política romana: sempre que um
cidadão se apresentava como candidato a um cargo público, desfilava pela cidade
usando uma toga imaculadamente branca, asseverando assim aos seus concidadãos a
condição de «candidus», cândido, isto
é, candidatum. O que queriam os
candidatos dar a saber? Segundo Sloterdijk, os Candidati desejavam dar a saber
que estavam dispostos a perder a sua inocência; eram «as noivas» do princípio
da realidade, do sistema de poder, cujo potencial de desfloração é lendário
desde o tempo dos Romanos.
Ora, dando o corpo ao
manifesto, o que pretende a candidata dar a saber? Que não há manifesto? Que é
o seu corpo promitente o manifesto?
Há lá lugar com mais
lugares-comuns do que a esfera pública da política! Não há. Mas é sempre
imponderável, glosando um mote do Alberto Pimenta, transportá-los, ostensivos, como andores.
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