domingo, 6 de setembro de 2015

Há lá coisa mais excitante do que o lugar-comum, dizia Baudelaire. Há lá coisa mais excitante do que um candidato a deputado que, inábil em dar corpo ao manifesto, dá o corpo ao manifesto; há lá lugar-comum menos excitante do que uma candidata, perguntada sobre o porquê de tal decisão, dizer tê-la tomado na plenitude da mulher e da candidata, que são uma só.

Há lá coisa mais excitante do que o lugar-comum, dizia Baudelaire. Há lá coisa mais excitante do que um candidato a deputado que, inábil em dar corpo ao manifesto, dá o corpo ao manifesto; há lá lugar-comum menos excitante do que uma candidata, perguntada sobre o porquê de tal decisão, dizer tê-la tomado na plenitude da mulher e da candidata, que são uma só.
Voltamos a Sloterdijk que, a propósito da crise da credibilidade política, e num capítulo epigrafado com uma citação de Juvenal -difficile est satyram non scribere (é difícil não escrever uma sátira) - rememora no livro Mobilização Infinita uma singular tradição política romana: sempre que um cidadão se apresentava como candidato a um cargo público, desfilava pela cidade usando uma toga imaculadamente branca, asseverando assim aos seus concidadãos a condição de «candidus», cândido, isto é, candidatum. O que queriam os candidatos dar a saber? Segundo Sloterdijk, os Candidati desejavam dar a saber que estavam dispostos a perder a sua inocência; eram «as noivas» do princípio da realidade, do sistema de poder, cujo potencial de desfloração é lendário desde o tempo dos Romanos.
Ora, dando o corpo ao manifesto, o que pretende a candidata dar a saber? Que não há manifesto? Que é o seu corpo promitente o manifesto?
Há lá lugar com mais lugares-comuns do que a esfera pública da política! Não há. Mas é sempre imponderável, glosando um mote do Alberto Pimenta, transportá-los, ostensivos, como andores.

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