segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Refugiados: vida e morte das imagens

O texto do Carlos no The Cat Scats sobre a tragédia dos refugiados relembrou-me um texto pretérito de Eduardo Cintra Torres sobre a comoção gerada pelo terramoto do Haiti. Escreveu Eduardo Cintra Torres que a compaixão do mundo pelo povo do Haiti seria, em boa medida, uma obra da televisão, argumentando que «sem imagens, testemunho e relatos, não haveria proximidade da catástrofe e a consequente mobilização maciça da caridade e da solidariedade». A «banalização das emoções e das imagens de sofrimento» seria, di-lo concluindo, «o preço a pagar por isso».
Sublinhe-se que de ambos os textos releva aquilo que Régis Debray (Vie et Mort de L`Image) designou como as antinomias do audiovisual, nas quais «cada tese tem a sua antítese e nenhuma pode refutar a outra, de modo que o iconófobo e o iconódulo estão condenados a viver juntos, por vezes no mesmo indivíduo» (a televisão serve a democracia/a televisão perverte a democracia; a televisão é uma memória formidável/a televisão é um funesto passador; a televisão é um operador de verdade/ a televisão é uma fábrica de ilusões; a televisão suscita a compaixão/ a televisão banaliza as emoções e as imagens de sofrimento).
Ou isto ou a hipótese perturbadora de Saul Bellow: «a profusão panóptica» de imagens, reportagens, exteriores, que passa frequentemente por informação, não seria senão «um disfarce de diversão Kitsch».

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