O texto do Carlos no The Cat Scats sobre a tragédia dos refugiados relembrou-me um texto pretérito de Eduardo Cintra Torres sobre a comoção gerada pelo terramoto do Haiti.
Escreveu Eduardo Cintra Torres que a compaixão do mundo pelo povo do Haiti
seria, em boa medida, uma obra da televisão, argumentando que «sem imagens,
testemunho e relatos, não haveria proximidade da catástrofe e a consequente
mobilização maciça da caridade e da solidariedade». A «banalização das emoções
e das imagens de sofrimento» seria, di-lo concluindo, «o preço a pagar por isso».
Sublinhe-se que de
ambos os textos releva aquilo que Régis Debray (Vie et Mort de L`Image) designou como as antinomias do audiovisual, nas quais «cada tese tem a sua antítese e nenhuma
pode refutar a outra, de modo que o
iconófobo e o iconódulo estão
condenados a viver juntos, por vezes no mesmo indivíduo» (a televisão serve a democracia/a televisão perverte a democracia; a
televisão é uma memória formidável/a televisão é um funesto passador; a
televisão é um operador de verdade/ a televisão é uma fábrica de ilusões; a
televisão suscita a compaixão/ a televisão banaliza as emoções e as imagens de
sofrimento).
Ou isto ou a hipótese perturbadora
de Saul Bellow: «a profusão panóptica» de imagens, reportagens, exteriores, que
passa frequentemente por informação, não seria senão «um disfarce de diversão
Kitsch».
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