terça-feira, 20 de março de 2012

Peter Singer /O peso de uma pessoa só a ele ou a ela diz respeito?



«Estamos a ficar mais gordos. Na Austrália, nos Estados Unidos e em muitos outros países tornou-se comum ver pessoas tão gordas que bamboleiam em vez de andar. O aumento da obesidade é mais abrupto no mundo desenvolvido, mas está também a ocorrer nos países pobres e de rendimento médio.


O peso de uma pessoa só a ele ou a ela diz respeito? Devemos simplesmente tornar-nos mais tolerantes quanto à diversidade de formas corporais? Não me parece. A obesidade é um assunto ético, porque um aumento de peso em alguns impõe custos nos outros.

Estou a escrever isto num aeroporto. Uma franzina mulher asiática registou-se num voo com, calculo, cerca de 40 quilogramas (88 libras) de malas e caixas. Ela vai pagar a mais por exceder o peso permitido. Um homem que pese pelo menos 40 quilos a mais do que ela, mas cuja bagagem esteja dentro do limite, não paga nada. E no entanto, em termos do consumo de combustível do avião, não há diferença se o peso extra é relativo a bagagem ou a gordura corporal.»


Peter Singer


A saúde já não é o mero silêncio dos órgãos. A sua maior virtude e glória - o descaso íntimo de si própria, um corpo jovial – já não basta. A saúde é um templo de mil zelos e desvelos em que os zelotas cuidam dos templos próprios e alheios. A Organização Mundial de Saúde definiu-a como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças, definição que, se não descreve um estado de quase beatitude, é todo um programa de Biopolítica e Bioética da Saúde.
Mas retornemos às questões de Singer: o peso de uma pessoa só a ele ou a ela diz respeito? Devemos tornar-nos mais tolerantes quanto à diversidade de formas corporais? As questões têm a clareza meridiana da filosofia anglo-saxónica, mas o território problematológico no qual se inscrevem – o corpo como lugar agónico da política -  é território  continental reconhecível. Em La Naissance de la Médicine Sociale (1974), Foulcaut escrevia: «O controlo da sociedade sobre os indivíduos não se efectua somente pela consciência ou o ideológico, mas também no corpo e pelo corpo. Para a sociedade capitalista é o biopolítico que importava antes de mais, a biologia, o somático, o corporal. O corpo é uma realidade biopolítica; a medicina é uma estratégia biopolítica.»




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