quinta-feira, 26 de abril de 2012
Erotic Flash Fiction 8
A primeira epístola de Pedro diz que o amor cobre uma multidão de pecados, já o segundo sms da Vanessa dizia que o sexo ia chibá-los a todos.
sexta-feira, 20 de abril de 2012
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Dicionário do Mofino 52
Caçar, v. Tipo particular de
predação levada a cabo por um bípede sem plumas façanhudo; o acto de matar uma presa e de a multiplicar
pelo número das suas múltiplas narrações; glosando Ortega y Gasset, aquilo que
um animal de fusil às costas e fraldiqueiro à arreata faz para se apoderar,
vivo ou morto, de um outro que pertence a uma espécie vitalmente inferior à sua
– o ouvinte paciente.
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Sobre a Caça e os Elefantes
Na obra Sobre a Caça e os Touros, o filósofo Ortega
y Gasset, depois de definir a caça como aquilo que um animal faz para se
apoderar, vivo ou morto, de um outro que pertence a uma espécie vitalmente
inferior à sua, estipula que a relação venatória carece, na escala zoológica, de uma distância apropriada entre a espécie caçadora e a caçada : não se caça
o superior, ou o quase igual, e muito menos o demasiado inferior, porque este não
pode “ tener su juego”.
Daqui se infere que a valoração da relação venatória estabeleciada entre o rei-caçador Juan Carlos e o elefante-caçado do Botswana obriga à medição objectiva e neutral da distância zoológica entre o Loxodonta africana e o Homo aristocraticus.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Everybody scattered
No dia 15 de Abril de 1912, na
sua viagem inaugural, afundava-se o maior navio transatlântico alguma vez construído. Augurava-se a era do catastrofismo tecnológico e findava assim,
ominosa, a visão prometeica da tecnociência e da inovação tecnológica como o
caminhar jubiloso do espírito humano. Transcorridos dois anos iniciava-se a Primeira Guerra Mundial, e nunca um naufrágio, naufrágio com muitos
espectadores, terá tido tamanha potência metafórica e parabólica outorgada pelo
devir histórico. (Hans Blumenberg, no ensaio Naufrágio com Espectadores,
escreveu com detença sobre as virtudes metafóricas do naufrágio).
Em 1920, John dos Passos publicava Three Soldiers, novela ímpar sobre a Primeira Guerra Mundial, e aí
um provável duo toca e canta uma canção popular sobre o drama do Titanic (as suas famosas folk songs, cujas letras, "newsreels", são a expressão e parábola
do espírito do tempo) .
Mesmo antes de acabarem a canção,
a bugle blew in the distance. Everybody scattered.
One negro
began chanting while the other strummed carelessly on the guitar.
"No,
give us the 'Titanic.'"
The guitar
strummed in a crooning rag-time for a moment. The negro's voice broke into it
suddenly, pitched high.
"Dis is de song ob de Titanic,
Sailin' on de sea."
The guitar
strummed on. There had been a tension in the negro's voice that had made
everyone stop talking. The soldiers looked at him curiously.
"How
de Titanic ran in dat cole iceberg,
How de Titanic ran in dat cole iceberg
Sailin' on de sea."
His voice
was confidential and soft, and the guitar strummed to the same sobbing
rag-time. Verse after verse the voice grew louder and the strumming faster.
"De
Titanic's sinkin' in de deep blue,
Sinkin' in de deep blue, deep blue,
Sinkin' in de sea.
O de women
an' de chilen a-floatin' in de sea,
O de women
an' de chilen a-floatin' in de sea,
Roun' dat
cole iceberg,
Sung
'Nearer, my gawd, to Thee,'
Sung
'Nearer, my gawd, to Thee,
Nearer to
Thee.'"
The guitar
was strumming the hymn-tune. The negro was singing with every cord in his
throat taut, almost sobbing.
A man next
to Fuselli took careful aim and spat into the box of sawdust in the middle of
the ring of motionless soldiers.
The guitar
played the rag-time again, fast, almost mockingly. The negro sang in low
confidential tones.
"O de
women an' de chilen dey sank in de sea,
O de women an' de chilen dey sank in de sea,
Roun' dat cole iceberg."
Before he
had finished a bugle blew in the distance. Everybody scattered.
John dos Passos, Three Soldiers
quinta-feira, 12 de abril de 2012
O "eduquês" nunca existiu?
Quando publicou o livro O eduquês em Discurso Directo - Uma crítica da
Pedagogia Romântica e Construtivista, Nuno Crato era um doxólogo que pontificava em entrevistas e opiniosos programas
de televisão, polemizando abonde sobre o complexo universo da educação e do
sistema educativo. Cunhado o conceito – o “eduquês”, que designava a novilíngua
de uma escola pouco exigente e medíocre – ei-lo aí, erradio e cursivo, para verberar
o primado das competências em detrimento do primado do conhecimento, a ausência
de exames e de avaliação externa das escolas e, enfim, o facilitismo generalizado,
induzido, segundo Crato, pela demagogia educacional das pedagogias românticas e
construtivistas reinantes.
Em bom rigor, o livro apresentava um conhecimento esparso e lacunar, quer
das sobreditas pedagogias românticas, quer das práticas pedagógicas dominantes
na escola portuguesa (bem menos românticas e construtivistas do que julga Crato), mas isso não obstou a que “eduquês” tenha passado a vigorar no discurso
político sobre a educação como um conceito nómada, omniexplicatico de todas as
moléstias e fragilidades do sistema educativo.
Eis senão quando, semanas volvidas após Nuno Crato ter introduzido o
exame no quarto ano de escolaridade – singularidade bizarra no contexto europeu
–, a OCDE, em relatório publicado esta semana, considera imperioso transformar as práticas docentes, ainda muito tradicionais, assegurar
uma maior participação dos alunos na sua própria aprendizagem, mormente o
envolvimento nos seus conteúdos e, pasme-se com o subidíssimo romantismo pedagógico,
reduzir a excessiva atenção dada à avaliação sumativa dos alunos (as “notas”) e
aos exames. Que riposte Nuno Crato, em discurso directo ou indirecto. Afinal, o “eduquês” nunca existiu.
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Nihilismo Gay: Activo/Passivo
Todas as gerações, desde esses
idos de 60, tiveram os seus sinais exteriores de revolta. Foram os cabelos
compridos, as drogas, as calças à boca-de-sino, as barbas à Fidel Castro, os
posters de Che Guevara colados na parede do quarto.
Ora a exposição da homossexualidade
é hoje uma delas. E a opção gay é uma forma de negação radical: porque rejeita
a relação homem-mulher, ou seja, o acto que assegura a reprodução da espécie.
Nas relações homossexuais há um niilismo assumido, uma ausência de utilidade,
uma recusa do futuro. Impera a ideia de que tudo se consome numa geração – e
que o amanhã não existe. De resto, o uso de roupas pretas, a fuga da cor, vão
no mesmo sentido em direcção ao nada.
José António Saraiva - Jornal Sol
Nietzsche definiu o drama do homem nihilista, do homem que do mundo tal qual é julga que não deveria ser, e do mundo tal qual deveria ser julga que não existe. É o drama de José António Saraiva, um nihilista da dissolução dos valores, reactivo e passivo, a afundar-se no crepúsculo do ressentimento, em direcção ao nada.
domingo, 1 de abril de 2012
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