quinta-feira, 12 de abril de 2012

O "eduquês" nunca existiu?



Quando publicou o livro O eduquês em Discurso Directo - Uma crítica da Pedagogia Romântica e Construtivista, Nuno Crato era um doxólogo que pontificava em entrevistas e opiniosos programas de televisão, polemizando abonde sobre o complexo universo da educação e do sistema educativo. Cunhado o conceito – o “eduquês”, que designava a novilíngua de uma escola pouco exigente e medíocre – ei-lo aí, erradio e cursivo, para verberar o primado das competências em detrimento do primado do conhecimento, a ausência de exames e de avaliação externa das escolas e, enfim, o facilitismo generalizado, induzido, segundo Crato, pela demagogia educacional das pedagogias românticas e construtivistas reinantes.
Em bom rigor, o livro apresentava um conhecimento esparso e lacunar, quer das sobreditas pedagogias românticas, quer das práticas pedagógicas dominantes na escola portuguesa (bem menos românticas e construtivistas do que julga Crato), mas isso não obstou a que “eduquês” tenha passado a vigorar no discurso político sobre a educação como um conceito nómada, omniexplicatico de todas as moléstias e fragilidades do sistema educativo.
Eis senão quando, semanas volvidas após Nuno Crato ter introduzido o exame no quarto ano de escolaridade – singularidade bizarra no contexto europeu –, a OCDE, em relatório publicado esta semana, considera imperioso transformar as práticas docentes, ainda muito tradicionais, assegurar uma maior participação dos alunos na sua própria aprendizagem, mormente o envolvimento nos seus conteúdos e, pasme-se com o subidíssimo romantismo pedagógico, reduzir a excessiva atenção dada à avaliação sumativa dos alunos (as “notas”) e aos exames. Que riposte Nuno Crato, em discurso directo ou indirecto. Afinal, o “eduquês” nunca existiu.

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