Quando publicou o livro O eduquês em Discurso Directo - Uma crítica da
Pedagogia Romântica e Construtivista, Nuno Crato era um doxólogo que pontificava em entrevistas e opiniosos programas
de televisão, polemizando abonde sobre o complexo universo da educação e do
sistema educativo. Cunhado o conceito – o “eduquês”, que designava a novilíngua
de uma escola pouco exigente e medíocre – ei-lo aí, erradio e cursivo, para verberar
o primado das competências em detrimento do primado do conhecimento, a ausência
de exames e de avaliação externa das escolas e, enfim, o facilitismo generalizado,
induzido, segundo Crato, pela demagogia educacional das pedagogias românticas e
construtivistas reinantes.
Em bom rigor, o livro apresentava um conhecimento esparso e lacunar, quer
das sobreditas pedagogias românticas, quer das práticas pedagógicas dominantes
na escola portuguesa (bem menos românticas e construtivistas do que julga Crato), mas isso não obstou a que “eduquês” tenha passado a vigorar no discurso
político sobre a educação como um conceito nómada, omniexplicatico de todas as
moléstias e fragilidades do sistema educativo.
Eis senão quando, semanas volvidas após Nuno Crato ter introduzido o
exame no quarto ano de escolaridade – singularidade bizarra no contexto europeu
–, a OCDE, em relatório publicado esta semana, considera imperioso transformar as práticas docentes, ainda muito tradicionais, assegurar
uma maior participação dos alunos na sua própria aprendizagem, mormente o
envolvimento nos seus conteúdos e, pasme-se com o subidíssimo romantismo pedagógico,
reduzir a excessiva atenção dada à avaliação sumativa dos alunos (as “notas”) e
aos exames. Que riposte Nuno Crato, em discurso directo ou indirecto. Afinal, o “eduquês” nunca existiu.
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