Suponha que tem um cancro galopante num rim. Vai
matá-lo, provavelmente no próximo ano ou
no seguinte. Uma droga chamada Sutent abranda a disseminação do cancro e pode
dar-lhe seis meses extra de sobrevida, mas custa 45 mil dólares. Valerão estes
meses a mais tal valor?
Começa assim um artigo do filósofo Peter Singer,
dado à estampa no New York Times em 15 de Julho de 2009 e intitulado Porque
Devemos Racionar Os Cuidados de Saúde, no qual o especialista de Bioética
Aplicada reflecte sobre os custos destes cuidados e as questões éticas
atinentes ao seu virtual racionamento.
Singer concita-nos a pensar esta questão à luz da
consabida anedota em que um homem pergunta a uma mulher se aceita ter sexo com
ele por um milhão de dólares. Ela reflecte durante algum tempo e aceita a
proposta. “Então”, continua ele, “e se for por cinquenta dólares?” Indignada, a
mulher exclama: “ Mas que tipo de mulher é que pensa que eu sou?” Ele responde:
“sobre isso já estamos conversados, agora só estamos a negociar o preço.” Como
diz Singer, à resposta do homem subjaz a a assumpção principial de que, se a
mulher está disponível para se vender por um qualquer preço e aceita considerar
monetariamente a sua honra, a mulher é uma prostituta imoral. Advoga o autor que à
forma como encaramos o racionamento nos cuidados de saúde subjaz uma assumpção
similar - a de que é imoral aplicar considerações monetárias quando se trata de
salvar vidas. Pergunta Singer: é esta assumpção sustentável e realista?
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