Hoje, depois da leitura
de um artigo sobre a proliferação micológica das agremiações de jantaristas,
apodadas fraternalmente de confrarias, lembrei-me do Fernando Veríssimo. Imaginei-o
a escrever O Clube Dos Anjos após um empanzinanço
de Boeuf Bourguignon. O ventre lêvedo
a roçagar no tampo da secretária. A tensão no cós das calças e os dedos a
ladrilhar no teclado: «Nem todos os dias se quer ouvir uma estaladiça fuga de
Bach ou amar uma mulher suculenta, mas todos os dias se quer comer. A fome é o
único desejo reincidente. A visão acaba, a audição acaba, o sexo acaba, o poder
acaba – mas a fome continua». Depois liguei o televisor, esgueirou-se o humor,
e aí está, insopitável, a uníssona conclamação universal do Veríssimo: a fome
continua!
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