domingo, 20 de outubro de 2013

Diário dos Perplexos/Veríssimo e a Fome


Hoje, depois da leitura de um artigo sobre a proliferação micológica das agremiações de jantaristas, apodadas fraternalmente de confrarias, lembrei-me do Fernando Veríssimo. Imaginei-o a escrever O Clube Dos Anjos após um empanzinanço de Boeuf Bourguignon. O ventre lêvedo a roçagar no tampo da secretária. A tensão no cós das calças e os dedos a ladrilhar no teclado: «Nem todos os dias se quer ouvir uma estaladiça fuga de Bach ou amar uma mulher suculenta, mas todos os dias se quer comer. A fome é o único desejo reincidente. A visão acaba, a audição acaba, o sexo acaba, o poder acaba – mas a fome continua». Depois liguei o televisor, esgueirou-se o humor, e aí está, insopitável, a uníssona conclamação universal do Veríssimo: a fome continua!

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