Ler a destempo na
revista Philosophie de Outubro um
extenso dossier sobre o objecto
social total, o telemóvel, e ficar em estupor com o prêt-à-penser de uma certa filosofia omnívora que, por de tudo se alimentar,
acaba por confundir o pensamento com os movimentos peristálticos do esófago. Ler
uma extensa entrevista com Maurizio Ferraris, filósofo italiano, autor do livro
Tes Où? Ontologie Du Téléphone Mobile,
e lê-lo a concitar o frequentadíssimo Heidegger para fazer a distinção entre o être-au-téléphone (fixe), evento ocasional,
o permanente e ubíquo être-au-mobile,
e, para usar ainda uma categoria heideggeriana como diz o entrevistado, a pauvreté-en-monde, no caso de privação
de conexão.
Desde que Günter Grass inventou
o verbo Heideggerizar, é muito mais fácil lidar com estes excessos epigonais, e, já agora, em verdade vos digo que a Agustina foi bem mais arguta. Ora aquilatem lá:
O
telemóvel tomou o lugar da intimidade em que a carícia e o olhar são uma forma
de maturidade sexual. Objecto masturbante, o telemóvel é um traço arcaico do
neurótico e, por isso, tão rapidamente adoptado. Não podendo ser um condutor do
pensamento, ganha em popularidade por dar um conhecimento acessório sobre os
sonhos e a vida quotidiana.
(O
Princípio da Incerteza – A Alma Dos Ricos)
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